A LUTA DOS MORADORES DO BAIRRO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, O 1.º COMÍCIO DO MES EM BEJA E O COMBATE AO SURTO DE CÓLERA QUE GRASSA NA CIDADE

Enquanto pelos meses de setembro e outubro de 1974 os trabalhadores agrícolas do distrito de Beja, através do seu sindicato, negoceiam com a ALA um contrato coletivo de trabalho de âmbito de distrital e os grandes proprietários agrícolas da região alinham em torno do general Spínola na preparação da manifestação da “Maioria Silenciosa”, cuja desarticulação pelas forças político-militares conduz à demissão do general de Presidente da República e da Junta de Salvação Nacional, o que leva à sua substituição por Costa Gomes e à formação do III Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves, em Beja e no distrito a vida política continua efervescente. Os comícios dos principais partidos políticos sucedem-se, com a novidade do aparecimento do MES (Movimento da Esquerda Socialista) que, depois de abrir sede na segunda quinzena de agosto no 1.º andar do n.º 34 da Praça da República, realiza o seu primeiro comício na cidade, dia 13 de setembro, no cineteatro Pax Júlia. Preside ao comício Celso Pinto de Almeida, advogado, e são oradores da organização local, António Charrua, estudante, e o operário metalúrgico António Pires.

Em paralelo com as iniciativas políticas desenvolvidas pelos partidos políticos, X acontecimentos marcam a cidade neste final de verão, início de outono de 1974. Um deles prende-se com a nomeação do Governador Civil. Logo após o 25 de abril de 1974, o MDP apresenta o nome do Engenheiro Vítor Borralho para chefe do distrito, no que tem o apoio de PCP, PS e PPD. No entanto, o tempo passa e a nomeação não acontece, com o MDP a insistir junto do Governo celeridade na nomeação. Só após a derrota da tentativa do golpe spinolista de “28 de setembro” é que nomeação se consuma com a indicação para o cargo do major Brissos de Carvalho, que toma posse nos primeiros dias de outubro, perante a crítica do MDP.

O outro dos acontecimentos prende-se com movimentação dos moradores do bairro da Nossa Senhora da Conceição exigindo melhorias nos arruamentos e na delimitação dos quintais, uma vez que o que existe são muros de canas e não de alvenaria como tinha sido prometido. Este bairro é propriedade, na altura, da Junta Diocesana do Amparo dos Pobres de Beja e tinha sido mandado construir, em inícios da década de 1950, pelo bispo de Beja, D. José do Patrocínio Dias, e outras entidades, para alojar famílias pobres da cidade que não tinham casa. Assim, dentro deste espírito, foram definidas rendas mensais com valores entre os 20$00 e os 100$00. Passados cerca de 20 anos sobre a edificação do bairro, os moradores confrontam a Junta Diocesana com o estado de degradação a que casas e arruamentos tinham chegado ao mesmo tempo que perguntam para onde vão os 15.000$00 mensais que a Junta arrecada de rendas pois não é investido nem um escudo no bairro. A esta movimentação dos moradores, traduzida no expressar público do seu descontentamento, com ecos na imprensa, a Igreja responde de forma violenta, através do Monsenhor Delgado Alves que, em artigo inserto na edição do “Diário do Alentejo”, de 23/09/1974, apresenta uma extensa lista dos moradores que não pagam a renda. Apesar de todos os cuidados colocados por PS, PS, PCP e MDP em retirar a Igreja do alvo de qualquer crítica, as populações não “afinam mesmo diapasão”, de que também é exemplo os moradores de Albernoa que, numa exposição de 425 assinaturas, exigem que o sino da Igreja local toque a anunciar quem morre e na hora de juntar as pessoas para o funeral dos defuntos que não têm enterro religioso.

O terceiro acontecimento prende-se com o surto de cólera que grassa na cidade e no concelho, o que leva à constituição, em Beja, em meados de setembro de 1974, do MCC (Movimento de Combate à Cólera) que, integrando várias brigadas, atua, sobretudo, nas freguesias rurais de Beja informando as populações dos cuidados de higiene a ter a fim de se evitar a propagação da doença.

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