A luz molda o meu mundo. Tem o dom de me convidar à contemplação atenta dos detalhes. Emitida ou reflectida, nas suas infinitas expressões, consegue sempre deslumbrar-me. Seja... num relâmpago que rasga a escuridão, numa gota de orvalho que repousa numa folha ao amanhecer, num farol em dia de tempestade , num fogo de artifício a explodir no céu, no carvão em brasa, incandescente, no rasto flamejante de uma estrela cadente, num pequenino pirilampo a piscar para atrair parceiros nas noites quentes de Verão, no vidro de uma janela ao lusco-fusco, num lago tranquilo a duplicar o céu estrelado, unindo-o com a terra, na lua a bailar na neve, nas pedras de um rio sob o sol, nos olhos de um gato à noite, no nevoeiro perfurado pelos faróis de um carro na escuridão, nos campos de trigo ao entardecer, na espuma do mar, nos fios de prata de uma teia de aranha, nas escamas de um peixe ao sol, na faísca de um fósforo aceso a romper o breu, na areia molhada ao luar, nos semáforos de trânsito no silêncio da noite, na chama tremeluzente de uma lamparina, num vulcão em erupção a incendiar a noite, nos telhados cobertos de telha molhada, numa lanterna de papel a flutuar, empurrada pela brisa, no brilho solitário de Vénus ao anoitecer... e por ti, ou em ti, a minha luz maior.

Fotografia de João Paulo Barros (joao.paulo.barros) publicada com a devida autorização do autor.