A ORGANIZAÇÃO DAS CLASSES DA SOCIEDADE RURAL DO DISTRITO DE BEJA NOS PÓS 25 DE ABRIL DE 1974

A LPA (Liga dos Pequenos Agricultores) (1)

Perante a crescente implantação da ALA (Associação Livre de Agricultores) que se apresenta como defensora de todos os agricultores quer eles sejam pequenos, médios ou grandes, alguns sectores das classes intermédias da sociedade rural do distrito de Beja começam a movimentar-se no sentido de constituírem uma organização autónoma e independente dos grandes proprietários agrícolas do distrito. Argumentando  que a agricultura não é uma classe, mas um setor económico com três classes distintas: grandes proprietários, pequenos e médios agricultores e trabalhadores rurais, cada um com os seus interesses específicos, um grupo de pequenos agricultores reúne-se em Beja no princípio de junho de 1974 e aí decide constituir a Liga dos Pequenos Agricultores definida como um organismo destinado a unir as classes intermédias dos campos na defesa dos seus interesses.

Apóstolo Godinho, regente agrícola, por parte do PS, e João Honrado e Carreira Marques, pelo lado do PCP, tiveram papel importante no lançamento da LPA que, a 23 de junho, em reunião também realizada em Beja, elege o seu primeiro secretariado constituído por Joaquim António Penéque, de Brinches, António Francisco Baptista, de Cuba, Manuel Moita Oca, de Pias, e Bento Luís Carlos, também de Brinches.

Esta eleição ocorre no âmbito da comissão distrital da Liga formada por dois delegados de cada uma das comissões organizadoras da associação que, entretanto, se foram constituindo nas diversas localidades do distrito.

Ao reclamar-se defensora de todos os pequenos e médios agricultores – proprietários, rendeiros ou parceiros – que sejam trabalhadores diretos das suas explorações, cujos interesses são apresentados como sendo de todo contrários aos dos grandes proprietários que, diz-se, estão organizados na ALA e ao reivindicar uma política governamental em matéria agrícola que passasse, entre outros aspetos, pela concessão de créditos a baixo juro e por medidas de fomento cooperativo  ao nível da produção e da comercialização dos produtos agrícolas, a LPA, no seu primeiro documento programático, datado da primeira quinzena de julho, estabelece, desde logo, os parâmetros em que irá desenvolver a sua atuação: ação reivindicativa junto do Governo no sentido da satisfação do que considera ser os interesses das pequenas e médias explorações agrícolas e desenvolvimento de uma fortíssima luta contra a ALA de forma a retirar-lhe a base social de apoio dos pequenos e médios agricultores.

De facto, só conseguindo subtrair as classes intermédias à influência dos grandes proprietários, uma constante de sempre no Alentejo, é que a LPA poderia vir a reforçar-se enquanto associação representativa dos agricultores do Baixo Alentejo, o que lhe permitiria vir a disputar com êxito o controle sobre os ex-grémios da lavoura, bem como sobre as organizações que haveriam de substituir as estruturas corporativas locais e regionais ligadas à agricultura e, desta forma, transformar-se, pela sua representatividade, no principal interlocutor junto do Governo em matérias respeitantes à política agrícola.

(1)      – Parte significativa deste texto integra a obra: PIÇARRA, Constantino (2008), As Ocupações de Terras no Distrito de Beja, 1974-1975, Coimbra, Edições Almedina, pp. 53-55.

Foto: Diário do Alentejo, de 20/07/1974

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