AS ALTERAÇÕES NO PODER LOCAL, EM BEJA, APÓS ABRIL DE 1974

Apesar da dissolução da PIDE/DGS, da Legião Portuguesa, da Mocidade Portuguesa, da prisão do Presidente da República, Américo Tomaz, do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano e dos ministros do Governo, o presidente e vereadores da câmara municipal de Beja mantêm-se em funções, declarando o seu apoio à Junta de Salvação Nacional (JSN)). Apesar, ainda, da demissão dos governadores civis, por decisão da JSN, em Beja nada de substancial se altera. Sai o Governador Civil, Fernando Nunes Ribeiro, mas fica em seu lugar o Governador Civil substituto, Adriano Gonçalves da Cunha, também ele nomeado pelo Governo da ditadura.

Esta situação, ou seja, a manutenção no poder local dos representantes do governo marcelista derrubado a 25 de abril, só começa a alterar-se a partir de final da 1.ª quinzena de maio. O coronel Romão Loureiro, representante da JSN, em Beja, reúne-se com os representantes do MDP (Movimento Democrático Português) do distrito para lhes comunicar que os presidentes e os vice-presidentes das câmaras municipais tinham sido demitidos pela JSN, bem como os vereadores, passando gestão dos municípios a efetuar-se por comissões administrativas constituídas por um presidente e por vogais em número idêntico aos dos vereadores que tinham estado em exercício nas respetivas câmaras. Quanto à escolha destas comissões administrativas a indicação dada é que esta se fizesse em comícios concelhios do MDP.

Assim, nos dias 13 e 14 de maio, tomam posse no Governo Civil de Beja, perante o coronel Romão Loureiro, as comissões administrativas das câmaras municipais de Aljustrel, Almodôvar, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Moura, Serpa e Vidigueira, presididas, respetivamente, por António Alexandre Raposo, Carlos Dinis Morgadinho Gago, Francisco de Lara Colaço Alegre, José de Mira Abrantes, Francisco José Palma Lopes, Armando Lopes de Almeida Manso, Joaquim José Acabado Janeiro e Carlos Jorge Labego Goes.

O processo no concelho de Beja é um pouco mais moroso. A 27 de maio, a comissão concelhia do MDP reúne-se para elaborar a lista a ser votada para a comissão administrativa da câmara e a 29 do mesmo mês, ao fim da tarde, na Praça da República de Beja, realiza-se a votação. Apurados os resultados são eleitas as seguintes personalidades: José Carlos da Silva Reis Colaço (funcionário público), presidente, Jorge José Pelica Moita (empregado bancário), Joaquim dos Santos Apóstolo Godinho (regente agrícola), Francisco José Camacho Campaniço (veterinário), João António Camacho Barriga (agente técnico), João da Silva Martins (empregado bancário) e Quirino José Catita (proprietário). Fazem ainda parte da lista submetida a sufrágio, mas sem os votos suficientes para integrarem o conjunto dos seis vogais a eleger, Augusto Luís Henriques Pinheiro (médico), que antes da eleição se queixa publicamente do seu nome constar na lista sem que tivesse sido antes consultado, o que teria declinado por falta de tempo, Américo Inverno Martins (industrial), Rui Mestre Rodrigues Palma (Caixeiro) e Manuel António Saramago de Brito (engenheiro agrónomo).

Esta eleição, que é antecedida pela demissão da câmara estado novista, cuja última reunião se realiza a 28 de maio, merece críticas por partes de alguns setores da cidade, entre os quais se encontra o “Diário do Alentejo”.

Estas críticas são, no fundo, duas: O processo de escolha da comissão administrativa é preparado em pouco tempo (48 horas), o que se traduz numa fraca participação – mil e poucos votantes – e no afastamento da votação da população das freguesias rurais. A segunda crítica prende-se com a impossibilidade haver alternativa para o nome indicado para presidente da comissão administrativa. Será, no entanto, José Colaço que dirigirá os destinos da autarquia bejense até às primeiras eleições que se realizam a 12 de dezembro de 1976.

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