AS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS DE 1976
O CASO DA FREGUESIA DE VILA DE FRADES, CONCELHO DE VIDIGUEIRA (I)
No seguimento do 25 de novembro de 1975, onde foi derrotada definitivamente a revolução enquanto fonte de legitimidade governativa, e imposta a legitimidade eleitoral, o ano de 1976 assistiu à institucionalização da democracia com a realização de três eleições: Assembleia Legislativa (25 de Abril), Presidência da República (27 de junho) e Autarquias Locais (12 de dezembro).
Esta última eleição, que fechou o ciclo eleitoral do ano de 1976, apesar da sua especificidade, não pode ser desligada, em termos de resultados eleitorais, das duas anteriores, nomeadamente da presidencial, onde a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho e o movimento popular que em torno dela se constituiu tiveram uma repercussão importante no comportamento da base eleitoral do PCP, sendo o Baixo Alentejo um bom exemplo do que se afirma.
O PCP que, no distrito de Beja, ganhou folgadamente ao PS para a Constituinte (+ 19.600 votos) e nas legislativas do ano seguinte (+ 14.690 votos), viu o seu candidato presidencial, Octávio Pato, ficar em terceiro lugar com menos 7.495 votos que Otelo Saraiva de Carvalho e menos 9.375 que Ramalho Eanes, o vencedor.
A dinâmica da candidatura de Otelo deu origem à criação duma estrutura organizativa designada por MUP (Movimento de Unidade Popular), assente nos GDUPS (Grupos Dinamizadores de Unidade Popular) que realizaram o seu I Congresso em novembro de 1976, vindo a disputar as eleições autárquicas do mês seguinte.
Foi, pois, no âmbito da preparação das eleições locais pelos GDUPS, apoiados pelo MES (Movimento da Esquerda Socialista), UDP (União Democrática Popular), FSP (Frente Socialista Popular) e PRP (Partido Revolucionário do Proletariado) que em Vila de Frades, concelho de Vidigueira, surgiu uma lista de cidadãos que não só ganhou as eleições para a Assembleia de Freguesia com 5 mandatos contra 2 do PS, como não deixou espaço político para a candidatura do PCP (FEPU – Frente Eleitoral Povo Unido), como ainda fez eleger o seu presidente de Junta, Luís José Viegas Carapeto, presidente da Assembleia Municipal de Vidigueira.
Vistas praticamente 48 anos depois, estas eleições em Vila de Frades surgem como um caso paradigmático de capacidade de mobilização popular, de intervenção cívica fortemente politizada e de como se podem juntar esforços e vontades em defesa dos interesses duma comunidade fora da tutela dos partidos, sem se ser, no entanto, contra eles.
Vejamos mais de perto como as coisas se passaram.
Como já se referiu, a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho, o estratega do 25 de Abril, gerou um grande entusiasmo popular, obtendo amplo apoio em muitos dos eleitores que nas duas eleições anteriores tinham votado PCP e PS. Em Vila de Frades os grandes entusiastas e os mais dinâmicos apoiantes desta candidatura eram um grupo de jovens politicamente próximos da chamada extrema-esquerda, onde pontificavam nomes como António Joaquim Gordo Pereira e Luís Manuel Baião Carapeto e onde se integrava também o autor destas linhas. Uns, muito poucos, reviam-se na UDP. A maioria era, no entanto, influenciada pela LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária) do Palma Inácio e do Camilo Mortágua, formação política que teve, inclusivamente, sede aberta em Vila de Frades.
(Continua)