AS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS DE 1976

O CASO DA FREGUESIA DE VILA DE FRADES, CONCELHO DE VIDIGUEIRA (III)

Como o núcleo promotor da lista de cidadãos à Assembleia de Freguesia de Vila de Frades era constituída por um grupo de jovens apoiantes da candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho, a decisão, em termos de constituição da lista, foi encontrar pessoas com outra maturidade e igualmente apoiantes de Otelo. Foi, assim, que a escolha para cabeça de lista recaiu no professor Luís José Viegas Carapeto, uma figura com enorme prestígio em Vila de Frades.

A aceitação da candidatura por parte do professor Carapeto facilitou, e em muito, a constituição definitiva da lista, que teve num dos jovens promotores, o António Joaquim Gordo Pereira, um trabalhador incansável para que a burocracia da recolha de assinaturas chegasse a bom porto.

O PCP, cujo líder natural em Vila de Frades era Luís Rosa Mendes, outra pessoa com enorme prestígio na comunidade e um passado reconhecido de opositor à ditadura fascista, tendo consciência que a lista independente representava o fechamento do seu espaço eleitoral na freguesia, passou, através do seu funcionário responsável pela região, a exercer uma enorme pressão no sentido desta candidatura surgir sob a sigla FEPU.

Mas as razões do PCP não eram só estas. O seu receio era que a ausência duma candidatura FEPU na freguesia de Vila de Frades ou a disputa do seu espaço eleitoral com uma lista de independentes, impossibilitasse a vitória do PCP na câmara e na Assembleia Municipal, como de facto veio a acontecer.

Apesar do PCP candidatar a Presidente de Câmara da Vidigueira o presidente da Comissão Administrativa que vinha de 1974, Carlos Jorge Labego Goes, apesar das quatro UCPs (Unidades Colectivas de Produção) existentes no concelho – “Muralha de Aço” e “Unidos Venceremos” na freguesia de Selmes, “Planície Heróica” na freguesia do Pedrógão e a “26 de Janeiro” na freguesia de Vidigueira – darem uma base social de apoio importante ao partido, este sabia que a eleição da câmara não ia ser fácil. Era certo que no concelho da Vidigueira, nas eleições legislativas de 25 de Abril de 1976, o PCP tinha obtido mais 511 votos que o PS, consolidando assim a sua vitória do ano anterior para a Constituinte onde tinha ganho apenas por 48 votos ao partido de Mário Soares. No entanto, o candidato do PS, o padre Manuel Trindade Reis, era um opositor de respeito pela simpatia que gozava no concelho desde o tempo em que, juntamente com mais três seminaristas dos Olivais – Carvalho, Abel e Urbano –, todos em fase de pré ordenamento sacerdotal, se tinha instalado numa casa em Vila de Frades, trabalhando lado a lado com os assalariados rurais da freguesia.

O PCP sabia, pois, que a inexistência duma candidatura FEPU em Vila de Frades podia favorecer o PS na disputa da Câmara e Assembleia municipal. Daí a pressão no sentido de levar à desistência da lista de cidadãos.

A pressão não surtiu efeito, a lista independente fez o seu caminho e dado o enorme apoio que granjeou na população, o PCP ficou sem espaço para avançar com uma lista própria, pelo que a FEPU não se apresentou a eleições, apelando o partido ao voto na Lista Unitária dos Trabalhadores de Esquerda.

Contados os votos verifica-se que a vitória da LUTE sobre o PS foi esmagadora com cinco mandatos num universo possível de sete (Quadro II), uma expressão completamente diferente da que teve a outra lista de independentes do distrito, a qual surgiu na freguesia de Albernoa, obtendo unicamente um mandato, embora alcançando 18,09% dos votos.

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