AS ELEIÇÕES PARA A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE DE 25 DE ABRIL DE 1974 EM BEJA (Conclusão)
Realizadas as eleições para a Constituinte, verifica-se no país e também no distrito e Beja uma forte afluência às urnas. No Baixo Alentejo, com 92,12% de votantes, as eleições são ganhas pelo PCP, com 38,97% dos votos, seguido pelo PS com 35,35%. A direita junta (CDS + PPD) alcança 7,43/ dos sufrágios, enquanto a esquerda radical (UDP + PUP + MES) soma 5,19% dos votos, praticamente tantos quanto o MDP / CDE (5,45%).
No entanto, os resultados nacionais são bem diferentes. O PS ganha com 37,87% dos votos, seguido do PPD (26,39%), do PCP (12,46%), do CDS (7,61%) e do MDP / CDE (4,14%). A esquerda radical, no seu conjunto (FSP + MES + UDP + FEC m-l + PUP + LCI), obtém 4,6%. Estes resultados nacionais são um autêntico “balde de água fria” para o PCP que não os espera de todo. A frustração é enorme conforme confessa Albano Nunes, membro do Comité Central do PCP, na Conferência “Cem Anos de Partido Comunista Português, realizada de 4 a 6 de novembro de 2021, na Biblioteca de Alcântara, em Lisboa. promovida pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.
Com estes resultados, os seis deputados a eleger pelo distrito de Beja repartem-se em igual número pelo PS (António Pope Lopes Cardoso; Raquel Júdice de Oliveira Howell Franco; Luís Abílio Cacito) e pelo PCP (Francisco Miguel Duarte; João António Honrado; Fernanda Peleja Patrício). Estes são os deputados eleitos, mas não são os que, pelo círculo de Beja, ocupam os lugares no Parlamento e votam a Constituição. No PS, Lopes Cardoso, cabeça de lista, deixa o cargo de deputado aquando da formação do VI Governo Provisório, onde assume a pasta da Agricultura, sendo substituído pelo quarto da lista, Joaquim da Costa Pinto, na sessão da Constituinte de 1 de outubro de 1975. No PCP, João Honrado, que é segundo da lista, pede a substituição de deputado, mas como Miguel Urbano Tavares Rodrigues, que é o quarto, não toma posse quem avança é o quinto, José Manuel da Costa Carreira Marques, que assume o lugar de deputado constituinte em agosto de 1975.
Mas quem são, afinal, os deputados eleitos pelo distrito de Beja que ajudam a escrever e votam a Constituição da República Portuguesa, de 1976, uma das constituições mais progressistas do mundo. Comecemos pelo PS.
Raquel Franco nasce em Beja, em 1939, e na altura em que é candidata exerce as funções de tradutora nos serviços administrativos das Forças Armadas Alemãs na capital do Baixo Alentejo. Luís Abílio Cacito nasce em Ervidel, concelho de Aljustrel, em 1935, e aquando das eleições exerce as funções de delegado de propaganda médica, embora possua o curso de professor do ensino primário, vindo mais tarde a licenciar-se em Direito. Ligado ao movimento informal bejense de oposição ao Estado Novo, Luís Cacito vem a filiar-se no PS logo a seguir ao 25 de abril de 1974. Joaquim Costa Pinto, comerciante, nasce em Aljustrel em 1922. Oposicionista à ditadura salazarista, o que lhe vale a prisão no Aljube na década de 1950, Joaquim Pinto integra a comissão concelhia de Aljustrel da candidatura do general Humberto Delgado, vindo a aderir ao PS logo a seguir a abril de 1974.
Quanto ao PCP, Francisco Miguel Duarte nasce em Baleizão, em 1907, e é membro do Comité Central do PCP, contando, à data do 25 de abril de 1974, com 21 anos de prisão, 8 dos quais no campo de concentração do Tarrafal. Fernanda Peleja Patrício nasce em Aljustrel, em 1929, filha de Manuel Patrício, um dos fundadores do sindicato mineiro desta vila, o que a influencia no seu posicionamento político. Regente escolar de profissão tem no seu currículo uma suspensão do ensino por motivos políticos no ano letivo de 1959-1960. José Manuel da Costa Carreira Marques nasce na Amadora em 1943. Ex-funcionário da Cooperativa Agrícola de Beringel adere ao PCP logo a seguir ao 25 de abril de 1974, sendo destacado pelo partido, juntamente com João Honrado, a que se junta o pequeno proprietário da serra de Serpa, Tibério Ventura, com a tarefa de organizar a Liga dos Pequenos e Médios Proprietários do distrito de Beja. É no desempenho desta tarefa, a que se junta a de redator do jornal “O Camponês, que Carreira Marques assume as suas funções de deputado constituinte.