Da análise das listas apresentadas pelos oito partidos concorrentes pelo círculo de Beja às eleições para a Assembleia Constituinte, de 25 de abril de 1975, algumas conclusões se podem retirar. Desde logo a ausência das mulheres como candidatas. As oito listas apresentam 48 candidatos, dos quais só sete são mulheres, sendo que três integram a lista do MDP/CDE, Maria Manuela Ramos, professora; Suzete Páscoa, professora; Maria Brizida Moita, professora, cuja composição é paritária. Ainda no que se refere às mulheres regista-se a lista do PUP (Partido de Unidade Popular), a única encabeçada por uma mulher, Marta Maria Belo da Cunha Matos Monteiro Franco, técnica de psicologia. Na lista do PS surge em segundo lugar Raquel Franco, empregada de escritório, lugar idêntico ocupado por Maria Luísa Carvalho Portela na candidatura do CDS. O PCP, por seu turno, apresenta em terceiro lugar Fernanda Peleja Patrício, regente escolar, e a UDP, Alzira Mestre, cabeleireira, também em terceiro lugar.

Apesar do processo revolucionário estar já em curso no Baixo Alentejo e da efetiva participação das mulheres na luta de massas a ele associado tal não se traduz na composição das listas concorrentes a deputados, o que mostra como a ideologia estadonovista sobre o papel e a função da mulher na sociedade, que não é o da ocupação do espaço público, vai resistindo aos tempos, mesmo num contexto revolucionário, repercutindo-se, naturalmente, na ausência destas na organização dos partidos de direita, mas também, embora em menor escala, na dos partidos de esquerda.  

É de sublinhar, ainda, a fraca presença, em posição de destaque, de assalariados rurais nas listas das formações políticas à esquerda, quando se vive uma autêntica revolução nos campos do Sul.  É certo que o PCP coloca na lista um membro da direção do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas do Distrito de Beja, Manuel Godinho Tagarroso, mas em sexto lugar, ou seja, em último e que o MES coloca o operário agrícola António Moreira, de Albernoa, mas também em último lugar. A UDP também não escapa a esta lógica, colocando um só assalariado rural na sua lista, José Mariano Martins, de Albernoa, embora em segundo lugar, portanto logo atrás do operário metalúrgico e poeta, António Joaquim Linhaça que a encabeça.

São com estes candidatos e com estas listas que a campanha eleitoral se inicia a 2 de abril de 1975, vinte e três dias antes da realização do ato eleitoral. Os comícios e as sessões de esclarecimento sucedem-se sem grandes incidentes por todo o Baixo Alentejo, revelando um apoio popular em grande escala ao PCP e ao PS.

O PPD, constituído, a 3 de maio de 1974, pelo impulso da chamada “Ala Liberal do Marcelismo”, tendo como fundadores Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão e Magalhães Mota, apesar de no programa com que se apresenta ao eleitorado colocar, em matéria agrária, a “primazia do direito de exploração sobre o direito de propriedade”, pelo que admite uma reestruturação fundiária subordinada a este princípio, é visto nos campos do Sul como representante dos interesses dos grandes proprietários agrícolas, um dos pilares do regime deposto a 25 de abril de 1974, isto por duas ordens de razões. Em primeiro lugar porque o partido não só não é referenciado com qualquer passado de luta antifascista, como é, inclusivamente, identificado na pessoa dos seus fundadores com a própria ordem marcelista. Em segundo lugar porque os rostos do partido na região ou são grandes proprietários agrícolas ou pessoas da sua esfera de influência.

Neste contexto, as realizações públicas do partido são, em regra, fortemente contestadas. Já o tinham sido aquando da tentativa de afirmação do PPD no Baixo Alentejo, com o boicote do comício em Castro Verde, de 2 de junho de 1974, o que volta a acontecer em Beja, a 9 de abril de 1975, em plena campanha eleitoral, o que é acompanhado pelo assalto à sede do partido, situada na Praça da República desta cidade.

(Continua na próxima quarta-feira)