AS ESQUERDAS RADICAIS NO DISTRITO DE BEJA (III)
O APARECIMENTO DOS GRUPOS MARXISTAS – LENINISTAS (1)
Ângelo Barreto (Ortigão), que desenvolve em finais da década de 1960 a sua ação política clandestina à margem do CAV (Comité Alentejo Vermelho), parte para Paris onde, nesta cidade, participa na dissolução do CMLP (Comité Marxista Leninista Português) e na fundação do PCP (M-L) – Partido Comunista de Portugal (Marxista-Leninista), o que acontece de 19 a 21 de agosto de 1971. Do Comité Central eleito deste partido fazem parte os três baixo alentejanos já referidos: Eduíno Gomes (Vilar), Carlos Janeiro (Mendes) e Ângelo Barreto (Ortigão) o qual, posteriormente, regressa a Portugal onde mantém a sua atividade política no Sul durante poucos meses, uma vez que regressa a Paris em finais deste ano, participando aqui, em vésperas do 25 de abril de 1974, na cisão no seio deste PCP (M-L) da qual resultam dois partidos comunistas marxistas-leninistas: O PCP (M-L) fação Vilar e o PCP (M-L) fação Mendes, os quais no contexto da revolução dos cravos tentam a implantação em Beja e no distrito.
O PCP (M-L) fação Vilar surge no distrito de Beja a 19 de maio de 1974, na manifestação em Baleizão de homenagem a Catarina Eufémia, com alguns dos seus militantes empunhando cartazes e distribuindo propaganda, ação prontamente isolada pelo PCP que a classifica de provocadora e de ter por trás a CIA. O partido, que tem como porta voz o jornal “Unidade Popular”, constitui, logo a seguir a abril de 1974, uma frente de massas designada por AOC (Aliança Operária Camponesa) que nunca chega a ter uma efetiva implantação na região, com a exceção de um núcleo em Ferreira do Alentejo com ligações a Aljustrel e Ervidel, terra de nascimento de Vilar. A AOC ainda anuncia e apresenta a lista candidata por Beja à Assembleia Constituinte onde surge como cabeça de lista Pedro Augusto Alves Martins, que tinha discursado na concentração do 1.º de maio de 1974, em Beja, ao lado de Celso Pinto de Almeida, mas não chega a ir a votos por imposição do Conselho da Revolução.
O PCP (M-L) fação Mendes, por seu turno, cria na primeira reunião plenária do Comité Central do partido, em maio de 1974, as Comissões de Unidade Popular (CUPs), organizações frentistas, surgindo, logo neste ano, três no Baixo Alentejo, mais concretamente em Beja, Moura e Amareleja, realidade a que não será estranho os contactos que Ângelo Barreto (Ortigão), agora ligado a este partido, tinha feito antes de 25 de abril de 1974 no distrito. Mais tarde, destas CUPs, e sob a direção do PCP (M-L) fação Mendes surge, em dezembro de 1974, o PUP (Partido de Unidade Popular) que se apresenta por Beja, às eleições constituintes e de cuja lista fazem parte os operários da cidade António Freitas e Joaquim Lemos os quais vão ter um papel importante no movimento social do operariado bejense enquanto dirigentes quer da delegação de Beja do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, quer do PCP (R) – Partido Comunista Português (Reconstruído).
De 26 a 28 de abril de 1975, no que ficou conhecido pela 3.ª Conferência do CMLP, dá-se a dissolução do PCP (M-L) fação Mendes e o ressurgimento do CMLP. No Alentejo estas alterações nesta corrente M-L dão origem ao aparecimento da Organização Regional do Alentejo desta organização política, bem como ao Comité de Zona de Beja, os quais, de novembro a dezembro de 1975, se unificam com o Comité Regional do Alentejo e o Comité sub-Regional de Beja da ORPC (M-L) – Organização para a Reconstrução do Partido Comunista (Marxista-Leninista) – num caminho que anuncia a formação do PCP (R) a 27 de dezembro de 1975.
Para além destas organizações, está, ainda, presente no concelho de Beja, nos pós 25 de abril de 1974, o CARP (M-L) – Comité de Apoio à Reconstrução do Partido (Marxista-Leninista), criado no início de 1973, e que no contexto da revolução de abril acolhe Francisco Martins Rodrigues, Ruy d’Espiney e João Pulido Valente.
É este CARP (M-L) juntamente com os CCRML – Comités Comunistas Revolucionários (Marxistas-Leninistas) – e a URML (Unidade Revolucionária Marxista Leninista) que ao fundirem-se em abril de 1975 dão origem à ORPC (M-L) e que promovem em finais do ano anterior a criação da UDP (União Democrática Popular).
(1) Este texto segue de perto PIÇARRA, Constantino, “As esquerdas radicais no distrito de Beja no decurso do processo revolucionário, 1974-1976”, In FERREIRA, Ana Sofia, MADEIRA, João, (Coord.) As Esquerdas Radicais Ibéricas Entre a Ditadura e a Democracia, Edições Colibri, 2020, pp 191-207.
Continua na próxima quarta-feira