BEJA EM AGOSTO DE 1974: A CARESTIA E A AFIRMAÇÃO DE PCP E PS COMO AS FORÇAS POLÍTICAS HEGEMÓNICAS NO CONCELHO E NO DISTRITO

A par da luta dos assalariados rurais destinada a fazer cumprir o articulado das convenções de trabalho rural de âmbito concelhio e da crescente implantação do sindicato agrícola no distrito, Agosto de 1974, em Beja, é marcado, do ponto de vista político, pela realização de dois grandes comícios, um do PS e outro do PCP, os quais são uma espécie de prolongamento natural das várias sessões de esclarecimento que ambos os partidos vêm realizando e continuarão a efetuar por todo o Baixo Alentejo durante este verão do ano da liberdade.

O comício do PS ocorre dia 15 de agosto, à noite, no Estádio Municipal, onde comparecem milhares de pessoas. Mário Soares, cuja presença é anunciada, não vem, sendo substituído por Salgado Zenha a que se juntam como oradores, para além dos militantes de Beja, as figuras nacionais Maria Barroso, José Luís Nunes, Marcelo Curto e João Gutierrez.

O comício do PCP realiza-se, a 31 de agosto, no largo fronteiro às piscinas municipais onde, segundo o “Diário do Alentejo”, de 2 de setembro de 1974, estariam presentes cerca de quinze mil pessoas vindas de todo o Alentejo e também do Algarve. Na tribuna, para além do João Honrado, que preside ao comício, estão representantes do MDP/CDE, do MJT (Movimento da Juventude Trabalhadora), da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Beja, de vários sindicatos, entre os quais o agrícola, e da Liga dos Pequenos e Médios Agricultores.

Estes dois comícios são importantes por duas razões. Primeiro porque revelam estes dois partidos como as forças políticas hegemónicas no distrito de Beja, com um ascendente para o PCP graças à sua enorme influência junto dos assalariados rurais. Segundo porque nestes dois comícios, de grande impacto mediático, cada formação política aproveita para explicitar o seu pensamento sobre a questão agrária no Sul do país, com isto se posicionando em relação à luta que se trava nos campos do distrito de Beja.

O PS, pela voz de Francisco Sezinando, da federação distrital de Beja, denuncia as manobras dos grandes proprietários agrícolas destinadas a manter o desemprego nos campos ao mesmo tempo que coloca o partido ao lado da luta dos assalariados rurais.

O PCP, através da palavra de Dinis Miranda e de José Mota, membro do sindicato dos trabalhadores agrícolas do distrito de Beja, denuncia a situação de abandono dos campos, a resistência dos grandes agricultores à aplicação das convenções de trabalho rural assinadas e apela à unidade e luta dos assalariados rurais.

À margem do campo político-partidário, Beja, ainda neste mês de agosto, debate-se com o problema da carestia de vida resultante, em grande parte, do aumento do preço de produtos fundamentais, como o pão, o açúcar e a gasolina, decretados pelo II Governo Provisório. É neste quadro e para fazer face a ele que constitui na cidade a “A Comissão de Abastecimento e Preços” a qual integra, para além do Presidente da Comissão Administrativa da Câmara, do vogal da mesma Comissão com o pelouro dos mercados e do veterinário municipal, representantes dos partidos políticos, dos vendedores de carne, peixe e hortaliças e do público consumidor. Feito o balanço da situação, em reunião de 19 de agosto, a conclusão é unânime: causa da subida dos preços está nos intermediários. Os talhantes dizem mesmo que não podem praticar os preços tabelados sob pena de terem prejuízo. Apesar das dificuldades, a “Comissão de Abastecimentos e Preços” consegue mesmo fazer baixar alguns preços, graças à fiscalização exercida, nomeadamente em relação ao peixe de que resultam alterações significativas no preço por quilograma da sardinha (de 40$00 para 20$00), do carapau miúdo (de 41$00 para 30$00) e da corvina (de 80$00 para 39$70).    

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