BEJA NOS PRIMEIROS DIAS APÓS O 25 DE ABRIL DE 1974 (II)

O PRIMEIRO 1.º DE MAIO

Dia 27 de abril de 1974, a alegria contida do povo de Beja pelo fim da ditadura explode, como aqui já foi relatado, na grande manifestação que neste dia se organiza de forma espontânea a propósito da prisão dos agentes da PIDE/DGS pelos soldados do Regimento de Infantaria 3, sediado na cidade. Como escreve o Diário do Alentejo (DA), de 29/04/1974, “Nos rostos de muitas mulheres do povo corriam lágrimas de emoção, enquanto ecoavam gritos de vitória e expressões de contentamento pela extinção da PIDE/DGS (…). Operários, que pouco antes tinham abandonado o trabalho, empregados, estudantes, gente do povo vivia euforicamente o momento histórico da prisão da famigerada corporação policial”.

É, ainda, neste dia 27 de abril que a sede da Legião Portuguesa, situada na rua de Alcobaça, foi desmantelada pelo exército com a recolha dos arquivos e do armamento aí existente.

Este é o primeiro dia da saída do povo de Beja à rua, o mesmo acontecendo em outras localidades do distrito. Em Pias, a 28 de abril, centenas de pessoas saíram à rua, dando vivas à liberdade. Em Aljustrel, também a 28 de abril, promovido por um grupo de antifascistas, foi sinalizado o 12.º aniversário do assassinato pela GNR dos mineiros, António Adanjo e Francisco Madeira, com uma romagem às campas destes operários no cemitério da vila.  Em Moura, na tarde de dia 29 de abril, foi ocupado o quartel da Legião Portuguesa com a presença de tropas do Regimento de Infantaria n.º 3 sem que, no entanto, fosse evitada a queima de vários documentos pelos legionários e a que se juntou uma manifestação com cerca de três mil pessoas.

É neste clima de crescente simbiose entre o MFA e o movimento popular que um grupo de democratas se reúne, dia 29 de abril, na Sociedade Capricho Bejense para preparar as comemorações do 1.º de Maio, declarado feriado nacional pela Junta de Salvação Nacional. A mesa desta sessão foi constituída por Melo Borges, Celso Pinto de Almeida, Rita dos Santos (Aljustrel)), Quirino José Catita (Beja), Carlos Figueiredo, Almeida Mansos (Moura), Jorge Moita, Margarida Borralho, José Marujo (Beja) e João Camacho (Almodôvar).

Nesta reunião foi, ainda, tratado a organização do Movimento Democrático Português (MDP) no distrito de Beja e a sua ligação à estrutura nacional deste movimento político.

O MDP, logo após o 25 de abril, funcionou, assim, como uma estrutura política unitária importante onde se juntaram os oposicionistas à ditadura que não tinham, ainda, feito a sua opção partidária.

Chegado o dia 1 de maio, a partir das 15.00 horas, milhares de pessoas começaram a juntar-se, em Beja, no largo fronteiro às piscinas municipais, para festejar a queda do regime fascista. Num palco montado para o efeito, presidindo às comemorações, encontram-se, para além de vários oficiais do Regimento de Infantaria de Beja e do coronel Romão Loureiro, delegado da Junta de Salvação Nacional, vários elementos da Comissão Distrital de Beja, do MDP.

De entre as várias intervenções, destacou-se a produzida por Celso Pinto de Almeida, do MDP, que fez uma referência especial a Mariana Janeiro, natural de Baleizão, presente na manifestação, barbaramente torturada pela PIDE, facto que a diminuiu fisicamente.

Após os discursos milhares de manifestantes desfilaram pelas principais ruas da cidade, a que juntavam outros milhares debruçados das varandas vendo passar a manifestação, unidos na palavra de ordem dominante: “o povo unido jamais será vencido”.

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