CONTINUAREMOS ROMANOS?

Edward Gibbon, termina a sua magnífica “Historia do Declínio e Queda do Imperio Romano” com o discurso de Poggio sobre as ruinas de Roma no séc.XV. Tudo o que resistiu até um período tardio, não aguentou o destrutivo da energia aplicada durante os séc. XIII e XIV. Por maior solidez que houvesse, no todo e nas partes, ao começar o decadente processo. Segundo o mesmo E. Gibbon, por quatro causas: 1º Os estragos da Natureza. 2º A chegada dos bárbaros e seus assolamentos, 3º O reutilizar dos materiais e espaço das construções e 4º As querelas intestinas dos romanos.

Inferimos, então, uma impressionante atualidade às enumeradas e referidas causas.1Alteração e ação climática. 2 Crispação com as migrações dos que não falam a nossa língua (os bárbaros) pelo direito exercido a procurar melhor vida que suportada na origem.3 Modernizar em cima das velhas urbes e utilizar o espaço rural / urbano com novos destinos.4 Mais imediatamente visível e ineludível, as querelas pelo poder intestino. Tudo liquido, como o mar. Costa onde desagua o rio.

Estas causas de decadência expostas pelo raciocínio gibboniano continuam atuais Parece que sim, historicamente, parece. A ciência Historia a isso nos remete. Vamos ao português Gil Vicente, 1533, séc.XIV , ao “Auto da Romagem dos Agravados”. Quando em Évora estava el-rei D. João III e ao Frade do Paço se queixam os ofícios, como o vilão (agricultor).

“- De que te queixas, vilão?

De Deos, que é coisa provada, que me tem grande tenção……Que chove quando não quero e faz um sol das estrelas quando alguma chuva espero. Ora alaga o semeado. Ora seca quanto há. Ora venta sem recato. Ora neva e mata o gado………. Mas Ele de tençoeiro, sem ganhar nisso ceitil, vai dar chuvas em Janeiro e geadas em Abril e calmas (calor) em fevereiro e nevoas no mês de Maio e meado de Julho agua de pedra,…cada vez mais me desmedra…..Ora dá palha sem grão, ora não dá grão nem palha….”

Um pouco longa a transcrição vicentina, Como longa, de há milénios é a inconstância e a permanente alteração climatológica. Há quem só as veja agora, paciência. É o ser humano a procurar uma eterna Primavera no tempo climático e permanecer numa juventude inesgotável que, inevitavelmente, lhe foge. Para isso faz tudo, ou tenta tudo. Expiando culpas ou pagando mercês e “ajudas”. Acho que o Universo no seu, inexorável, movimento, sorrirá concordando e afirmando a sua permanente mutação, abrirá mais o riso perante a impertinencia humana na vã glória de nele mandar.

As crispações com os bárbaros continuam iguais. Não os entendemos. Nem os que vêm com dinheiro motivados a investir e a fazer mais dinheiro, sentimo-los como invasores do território físico. Nem entendemos os que sentimos como migrantes. Como vamos perceber que um viver péssimo, inaceitável para nós no nosso conceito atual de humanidade, seja uma fuga a um inominável e indiscritível modo de sobreviver, para eles? O mundo é diferente da nossa terra. E lá por esta ser melhor, de momento, não expulsemos os novos “bárbaros”. Nem se permita o abuso da sua fragilidade.

Nunca nenhuma região de Portugal teve acesso público, referenciado, estudado, registado, conhecido num tão vasto espaço rural como o posto à vista pelas obras do regadio da EDIA , quer as redes de rega feitas pelos agricultores. Único, sem a mínima duvida, em tão vasta área-Sabemos muito mais, porque se escavou como nunca e registou-se. O que se conservou ou conservará desse conhecimento, mal ou bem, é muitíssimo maior Saibam olhar e ver comunicar e conservar o que for merecedor. A pena será perder memória e civilização.

Pois as querelas continuam. Ficarão e destruirão muito mais que qualquer das premissas anteriores, (muito destas derivam…). Porque pouco acrescentam e mais esvaziam. Assentam sempre em vaidades e vacuidades muito humanas, muito adultas, nas piores aceções dos dois termos. Quase nunca a política é feita por gente “selvagem”, pura e irreverente. O pensamento incivilizado, livre, sem rédeas, de Hamlet e da Ilíada, das mitologias e até das Escrituras, que não se aprende nas escolas, nas universidades e nos partidos, é o que delicia o ser humano, como diz Henry David Thoreau. A nós, os que valorizamos a liberdade, estas instituições e educações geram um tédio potenciador de submissão inadmissível num homem livre.

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