O CASO JOSÉ DIOGO
José Diogo, um antigo emigrante na Suíça durante sete anos, residente em Casével, freguesia do concelho de Castro Verde, é no verão de 1974 tratorista na exploração agrícola de Columbano Líbano Monteiro, ex-presidente da Câmara Municipal de Castro Verde nas décadas de 1940 e 1950 e pessoa temida pela comunidade castrense pelo zelo com que exercia, na qualidade de presidente do Município, as funções de informador institucional da polícia política do salazarismo, a PIDE (Polícia de Intervenção e Defesa do Estado).
Quando a convenção de trabalho para este concelho é assinada na segunda quinzena de agosto de 1974, Columbano não a respeita na íntegra, pagando 180$00/dia aos tratoristas. menos 10$00 que o convencionado, e não cumpre outras cláusulas do acordo de trabalho. Só por pressão dos trabalhadores, onde se encontra José Diogo, líder da contestação, é que no início de setembro Columbano vem a respeitar o horário de trabalho de 8 horas e o pagamento das horas extraordinárias.
Pouco tempo depois, no contexto de um desentendimento relativo ao trabalho José Diogo é despedido. Após uma semana no desemprego, dia 30 de setembro de 1974, o tratorista desloca-se a casa do antigo patrão para lhe pedir trabalho. O encontro não corre da melhor maneira e no calor da discussão José Diogo esfaqueia Columbano que, dias mais tarde, vem a falecer. José Diogo, acusado de homicídio, dá a sua entrada na prisão de Beja aguardando julgamento.
Vendo-se preso José Diogo procura apoio. Com o silêncio do PCP, de que é simpatizante, e do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas do distrito de Beja, o denominado "Comité Alentejo Vermelho", de Baleizão, assume a defesa política de José Diogo envolvendo nisso os jornais "Voz do Povo", porta-voz da UDP (União Democrática Popular) e "A Verdade", ligado ao PUP (Partido de Unidade Popular), por sua vez frente de massas do PCP (M-L) (Partido Comunista de Portugal (Marxista -Leninista), fação Mendes.
Após a publicação no jornal "A Verdade", da segunda quinzena de novembro de 1974, de uma carta de José Diogo onde este relata os acontecimentos de 30 de setembro e que tem a particularidade de terminar com um "Viva o PCP", José Diogo passa a ser apoiado e, simultaneamente bandeira política da UDP e do PUP, a que se junta a FEC (M-L) (Frente dos Comunistas (Marxistas-Leninistas). Para além destas organizações José Diogo é, ainda, apoiado financeiramente, juridicamente e politicamente pela AEPPA (Associação de Ex-Presos Políticos Antifascistas, onde se destaca, como seu advogado, Amadeu Lopes Sabino, e pelo GAC (Grupo Ação Cultural "Vozes na Luta") que faz mesmo uma canção dedicada ao tratorista de Castro Verde.
Por força das manifestações organizadas por estas formações políticas exigindo a libertação de José Diogo, a realização do seu julgamento é adiada - adiamento de Ourique (12/05/1974) para Lisboa (08/07/1974), vindo o tribunal a reunir em Tomar a 25/07/1975.
Antecedendo o julgamento marcado para Ourique, dia 11 de maio de 1975 realiza-se, em Castro Verde, uma manifestação que conta com a presença de cerca de mil pessoas exigindo a liberdade de José Diogo e uma sessão de "canto popular" pelo GAC.
Em Tomar, com uma forte presença popular vinda de Lisboa, encabeçada pelas comissões de trabalhadores da cintura industrial da capital, realiza-se no claustro do tribunal o julgamento popular de José Diogo de que resulta a sua absolvição e a condenação de Columbano como inimigo do povo. Enquanto este julgamento se desenvolve, o juiz do tribunal oficial aceita libertar José Diogo mediante uma fiança de 70 mil escudos, verba que recolhida e entregue no mesmo dia permite libertar o tratorista de Castro Verde ainda a tempo de vir a discursar no comício da UDP que nesse dia se realiza em Lisboa no Campo Pequeno.