Terá a Arte dono?
No tempo que nos escorre por cima e nos foge, depressa e lento, por debaixo dos pés, as ideias diferentes pouco valem, a criatividade agoniza sufocada, a Arte é cada vez mais frágil. As massas, como diria Ortega y Gasset, venceram na sua rebelião. As elites intelectuais e artistas vão desaparecendo quase sem substitutos. Vão dominando o Mundo os ruins, os medíocres, os massificados, os obedientes. A opinião que se forma acerca de um escritor, um cantor, um pintor, um poeta (se é que ainda existam…), por aí fora, não tem nada a ver com a qualidade da sua obra. Tem de se saber primeiro quem é, se está dentro dos, cada vez, mais estritos cânones do dominante pensamento estandardizado de auto censura, cinzelado pela força bruta da educação dogmática que encerra os espíritos em vez de os libertar. Nunca se publicaram tantos livros e nunca tantos foram tão iguais. Até aos trabalhos da ciência se impõem os limites do tacanho espírito deste tempo. A dúvida morreu.
A política perdeu a genialidade, para ter um viver dentro da genealogia, famílias inteiras, matrimónios felizes, amantes escondidos ou bem à vista, tratam de levar o Povo no rumo que é devido. Castas de poder, endogâmicas, com uma capacidade darwiniana da adaptação para sobreviver, ignorando a técnica, alinhando sempre com a “correção” da hora, do tempo, sem ter dúvidas, estas morreram. E com elas a capacidade de escolher, de pensar.
Também morreu, há um mês, Javier Marias, o melhor escritor ibérico destes 22 anos do sec. XXI. Um dos últimos intelectuais sem rótulo, sem ter de ser uma “correta” boa pessoa para fazer muito bons livros.
Os novéis personagens públicos, ou aspirantes a isso, vivem sob o terror de não acertar na penical correção ambiental, eco, da crença, perdão, na ciência certa do muito próximo fim do mundo, da amizade ou “parentalidade” com cães gatos e furões, ou no mortal pecado de ter sido caçador, ou ter aplaudido a pega de um toiro. Por aí fora…
Aconselho a leitura de “A INTRANSIGENTE DEFESA DA ARTE-transcrição de um julgamento sórdido” Óscar Wilde (livros negros- guerra e paz). Wilde relata o seu próprio julgamento, onde em vez de se julgar o homem, condenou-se o Artista e a sua obra.
Também a política é uma arte ou deveria.
Apreciamos as obras de arte ou julgamos primeiro quem as criou?