25 Abril: Assinalados hoje no Alentejo 50 anos da criação do Movimento dos Capitães
Um grupo de oficiais reuniu-se a 09 de setembro de 1973, no Alentejo, para criar o Movimento dos Capitães, data que foi hoje assinalada com a presença de muitos desses militares que ajudaram a pôr fim à ditadura.
Os 50 anos da criação do Movimento dos Capitães foram hoje assinalados, no Monte do Sobral, em Alcáçovas, Viana do Alentejo, numa iniciativa que marcou uma nova fase das comemorações do cinquentenário do 25 de Abril.
A evocação ao primeiro grande encontro em Portugal do que viria a ser o Movimento das Forças Armadas (MFA) foi organizada pela comissão comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril e aconteceu no local onde decorreu, em 09 de setembro de 1973, a reunião clandestina.
“09 de setembro de 1973 é um marco importantíssimo no percurso para o 25 de Abril. Foi aqui que há 50 anos um grupo de jovens capitães se uniu, conversou e começou a discutir o assunto que vai levar na prática ao 25 de Abril, que é o fim da guerra colonial”, disse à agência Lusa a comissária executiva da organização, Maria Inácia Rezola.
A responsável pela comissão comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril explicou que as comemorações já se iniciaram, tendo sido feito um “revistar de alguns atores e acontecimentos fundamentais” que levaram ao 25 de Abril de 1974, como o movimento estudantil, luta sindical e o mundo de trabalho.
Para Maria Inácia Rezola, a história que começou há 50 anos em Alcáçovas “é uma peça central neste processo”.
“Estes jovens capitães que estavam na guerra viram-se ultrapassados nas suas carreiras por um decreto que o regime publicou, portanto se foi uma questão corporativa que os trouxe aqui pela primeira vez, a verdade é que esse movimento vai progredir, politizar-se e colocar como bandeiras o fim da guerra e a instauração da democracia”, precisou.
A responsável afirmou também que as comemorações entraram agora numa nova fase, estando-se já “em contagem decrescente” para a data.
Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril e um dos oficiais que organizou a reunião em Alcáçovas, disse à Lusa que foi no Monte do Sobral que há 50 anos aconteceu “uma grande reunião em que estiveram presente 136 oficiais” e onde nasceu o Movimento dos Capitães.
“Até àquela data havia atitudes várias, quer em Lisboa ou nas colónias. Foi aqui que fizemos uma grande reunião e é aqui que é formado o Movimento dos Capitães, que vai liderar todo o processo de conspiração e depois a ação militar no 25 de Abril”, afirmou, salientando os contornos da reunião, que "foi clandestina e havia a hipótese de serem punidos disciplinarmente”.
Vasco Lourenço destacou a coragem dos 136 oficiais que estiveram no Monte do Sobral.
Sobre a escolha do local, explicou que os militares conversaram na altura da necessidade de fazerem uma grande reunião, mas que era preciso arranjar um local, tendo Dionísio Almeida afirmado que tinha a solução, pois tinha um familiar com um monte no Alentejo.
“Em boa hora nos cedeu as portas para fazer aqui a reunião”, lembrou.
Vasco Lourenço lembrou ainda que “é muito emotivo” estar no local 50 anos depois, sustentando que “é sempre emotivo recordar uma reunião tão importante em que foi o coordenador, organizador e moderador”.
A Lusa questionou Maria Inácia Rezola sobre em que fase de se encontra a criação do museu dedicado ao 25 de Abril, ao que respondeu estar em fase de negociações, estando a ser pensado locais, perspetivas e intervenientes.
A reunião realizada a 09 de setembro de 1973 no Monte do Sobral assinala simbolicamente o início da conspiração e o nascimento do Movimento dos Capitães. Há 50 anos, para evitar suspeitas, o evento foi minuciosamente preparado sob a capa de uma confraternização pelos jovens capitães Diniz de Almeida, Vasco Lourenço, Rosário Simões, Carlos Camilo e Bicho Beatriz.
Nesse dia, mais de 100 jovens militares conseguiram reunir-se de forma clandestina no Monte do Sobral naquela que foi a primeira reunião plenária de um movimento de descontentamento pela situação de uma classe militar e que se transformou numa força revolucionária que havia de mudar o país e colocaria fim a 48 anos de ditadura, cerca de sete meses mais tarde.
As celebrações contaram com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa, e contemplaram o lançamento de paraquedistas, o descerramento de um painel de azulejos evocativo, atuações do grupo coral dos trabalhadores de Alcáçovas e da Jovem Orquestra Portuguesa e a inauguração do Parque Infantil “Liberdade”.