Iniciado em 2019, o projeto europeu, que agora chegou ao fim, pretendeu captar e recriar “artisticamente” algumas “paisagens sonoras únicas da Europa”, explicou hoje à agência Lusa José António Falcão, presidente da associação Pedra Angular, entidade que coordenou a iniciativa.

“O balanço é francamente positivo e traduziu-se, entre outras conquistas, num reforço da posição de Portugal e, muito em particular, do Alentejo do ponto de vista da arte, do património e da ciência, ao nível europeu”, acrescentou.

Coordenado pela associação Pedra Angular, com sede em Santiago do Cacém (Setúbal), o projeto teve a colaboração do Spatial Sound Institut, de Budapeste (Hungria), do 4DSOUND, de Amesterdão (Países Baixos), e da Fundación Santa María de Albarracín, de Teruel (Espanha).

A iniciativa, financiada através do programa Europa Criativa, da União Europeia, teve o apoio de diversas entidades, nomeadamente da Câmara de Odemira (Beja), e propôs-se a “registar, estudar e potenciar a herança sonora europeia”.

Foram desenvolvidas residências artísticas no Alentejo litoral, em Albarracín e em Budapeste para registar e recriar, “de forma inovadora”, o património sonoro da Europa, “incluindo uma inédita captação de sons submarinos”.

“Fizeram-se centenas de horas de gravação, com recurso à tecnologia de vanguarda do ‘spatial sound system’” e, no final, “constituiu-se um arquivo sonoro representativo de três dimensões fundamentais da Europa, a marítimo-fluvial, a rural e a urbana”, revelou José António Falcão.

Segundo este responsável, na dimensão marítimo-fluvial, captada junto do Atlântico e de rios e lagoas no litoral alentejano, foram registados sons “de peixes dentro e fora de água”, de “navios de pesca a sair do porto” ou de “vagas a embater em pontos característicos da costa, como o cabo Sardão”, no concelho de Odemira.

Já a dimensão rural foi captada na região de espanhola de Teruel, consistindo, por exemplo, no ruído de pastores e gado, de sinos “ao longe” ou de “oficinas de ferreiros”.

A cidade de Budapeste, na Hungria, foi ‘palco’ da recolha dos sons relativos à dimensão urbana, com o registo de transportes públicos em circulação, do ‘burburinho’ de mercados ou de pessoas num parque “a desfrutar do fim de semana”.

Todos este arquivo está disponível no site do projeto (www.sonotomia.com), sendo “uma base de conhecimento que serve de inspiração para investigadores e criadores”, além de constituir “uma experiência cientificamente validada que poderá ser objeto de réplicas noutros territórios, dentro e fora da Europa”, segundo José António Falcão.

Ainda no âmbito do projeto, foram realizados documentários, um por cada território envolvido, e concebida a peça musical “Água da Vida”, encomendada pela Pedra Angular à compositora britânica Jamie Man, que a estreou, no passado sábado, em Odemira.

A peça “inspira-se” nos sons da recolha e é, igualmente, “uma reflexão sobre o papel da água na vida e na morte” e um “alerta vanguardista” para “o declínio da água” no mundo, frisou o presidente da associação alentejana.

No futuro, a Pedra Angular quer “potenciar” a rede de contactos e de trabalho em comum com os parceiros de Espanha, Hungria e Países Baixos, assim como “prosseguir o trabalho em torno das relações entre os recursos hídricos, a sustentabilidade e a arte”, assumiu José António Falcão.

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Muito interessante este projecto, que mostra o potencial do Alentejo

João Filipe

13/11/2022

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