APA quer água de barragem em Odemira libertada para caudal ecológico do Rio Mira
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) solicitou à Associação de Beneficiários do Mira (ABM) a libertação de água para o caudal ecológico do Rio Mira, em Odemira, devido ao impacto na saúde pública.
O pedido foi enviado na semana passada, após responsáveis daquele organismo terem verificado que o “abaixamento do nível” naquele espelho de água, junto à barragem de Santa Clara, pode conduzir a “uma situação preocupante” do ponto de vista de saúde pública e salubridade, disse hoje à agencia Lusa fonte da APA.
Trata-se de “uma situação preocupante do ponto de vista da saúde pública e de salubridade”, uma vez que “o abaixamento do nível” de água no caudal ecológico do Rio Mira pode conduzir “à produção de cheiros, odores, insetos” e até à “morte de peixes”, explicou o diretor da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo, da APA, André Matoso.
O responsável adiantou que a APA enviou a comunicação à AMB a pedir “para libertar água”, de modo a evitar ainda mais a descida dos níveis, situação que “já se verificava a semana passada”, e para “não deixar à vista lamas e o fundo seco”, provocando a morte de peixes.
“Este ano, devido ao menor nível de armazenamento em Santa Clara” a Associação de Beneficiários do Mira “argumentou que não queria largar água”, mas a APA insistiu na urgência em “libertar água” para aquele caudal, sublinhou.
O caso foi denunciado pela Junta de Freguesia de Santa Clara-a-Velha, no interior do concelho de Odemira, a qual, em comunicado, acusou a ABM de ser responsável pela “iminente catástrofe ambiental” na Ribeira do Mira.
A “ABM cortou o caudal ecológico para a Ribeira do Mira, tanto que o abaixamento do caudal foi imediato, o que provocou alguns danos no espelho de água que temos no leito do rio, junto à aldeia de Santa Clara”, disse hoje à Lusa o presidente da junta de freguesia, Fernando Peixeiro.
No comunicado, a autarquia indicou que, depois de contactada, a AMB, que gere a albufeira, terá informado “que não tem obrigação de garantir o caudal ecológico” e que o “espelho de água pode ser recarregado”, mediante o tarifário em vigor, “sendo cobrado à junta de freguesia”.
“Tivemos que mandar abastecer diretamente para o espelho de água, durante um período de oito dias, para salvar os peixes que estavam numa situação de asfixia e para evitar uma catástrofe imediata. Entretanto, já recebemos a fatura com o valor que a junta terá de pagar”, que ascende a "1.049 euros", frisou o autarca.
Esta segunda-feira, após a interferência da APA no processo, a junta de freguesia “pediu para suspender” o serviço e o abastecimento “foi cortado”, adiantou Fernando Peixeiro.
“Neste momento não temos qualquer indicação de que a associação de beneficiários já esteja a cumprir com as determinações da APA”, frisou o autarca, reforçando que não compete à junta de freguesia “pagar a água para assegurar o caudal da ribeira”.
A situação foi igualmente exposta à Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar e do Ordenamento do Território, à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo e à autoridade local de saúde.