Foto: C.M.Beja

“Só ainda temos disponibilizados cerca de 2.000 documentos”, porque cada um “tem que ser trabalhado, inventariado e só depois o podemos libertar nas plataformas”, indicou à agência Lusa o presidente da Alentejo, Terras e Gentes - Associação de Defesa e Promoção Cultural do Alentejo.

O Arquivo Digital do Cante, lançado em maio deste ano, pretende, através da preservação da memória documental dos grupos corais, contar a história do cante alentejano, que, na próxima quarta-feira, celebra 10 anos como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

O projeto, além da associação presidida por Florêncio Cacête, é promovido pelo Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS) da Universidade de Évora e pela Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), com o apoio de outras entidades da região.

Os documentos do arquivo estão disponíveis na Internet, tanto na plataforma do projeto, em https://arquivodigitaldocante.pt, como “desde esta semana no repositório digital da Universidade de Évora, que aderiu à Rede Portuguesa de Arquivos, com acesso a partir de todo o mundo”, indicou o também investigador do CIDEHUS.

“O nosso trabalho tem sido e será sempre muito baseado na investigação, no trabalho de campo, nas sedes dos grupos, com os diretores dos grupos, a digitalizar todos estes documentos e a reconstruir estes bocadinhos de história”, contou.

Do trabalho já realizado, a partir “do cruzamento de um conjunto de dados onde constavam os nomes dos grupos desde 1926”, foi possível à equipa identificar 367 grupos de cante alentejano, uns extintos e outros em atividade, resumiu.

No Alentejo, indicou, há grupos “desde Gavião, no Alto Alentejo, por estranho que pareça”, pois, em 1955 havia uma formação nesse concelho do distrito de Portalegre, “até Ourique”, no sul do distrito de Beja, o ‘coração’ do território do cante, o Baixo Alentejo.

“Depois, extravasa para o Algarve, para a diáspora na Área Metropolitana de Lisboa, com imensos grupos”, mas também os há “em Paris, no Canadá e chegou a haver um em Angola”, relatou.

E, 10 anos após o ‘selo’ da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), como está a ‘saúde’ do cante alentejano? Florêncio Cacête tem a resposta na ‘ponta da língua’: “O cante está vivo e está bem vivo”.

O que não impede que existam “alguns problemas”, admitiu à Lusa o responsável, sugerindo que os grupos “precisam de ser olhados com uma visão estratégica, que potencie o seu desenvolvimento e crescimento, nomeadamente ao nível de apoio técnico” e “do apoio financeiro”.

“Porém, foi muito importante este reconhecimento. E toda a dinâmica criada em torno da própria candidatura para a inscrição na UNESCO foi motivadora e disparou o aparecimento e a reorganização de muitos grupos de cante”, argumentou.

Segundo o responsável, “muitos dos grupos que existem atualmente ou se reorganizaram ou foram criados naquela altura” e nem a covid-19 ‘abanou’ esta manifestação cultural: “Mesmo durante a pandemia, surgiu um grupo de cante”.

A equipa do Arquivo Digital do Cante tem os seus empregos, mas já percebeu que este “é um trabalho para a vida”, porque “são muitos grupos e arquivos”, mas não vira costas ao desafio.

Andam “sempre a correr” para “apanhar determinada pessoa que está com problemas de saúde e que tem um arquivo ou documentos que são importantes” obter para que a história do cante não desapareça.

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