Autárquicas/Beja: Sem tradição e "búzios" a favor, socialista Paulo Arsénio tenta segundo mandato
A tradição e a história das eleições autárquicas de Beja “não auguram nada de bom”, mas o atual líder socialista da câmara, Paulo Arsénio, está disposto a romper com o passado no próximo ato eleitoral.
“Sou o quinto presidente dos últimos 20 anos. Pode dar um estudo sociológico, no futuro, saber porque é que em Beja ninguém ganha uma segunda vez, se eu não romper com essa tradição”, diz à agência Lusa o candidato do PS.
O último presidente a ‘segurar’ o município de Beja por mais do que um mandato foi José Carreira Marques (CDU), entre 1982 e 2005.
A partir daí, os presidentes da câmara só ocuparam o lugar durante um mandato: Francisco Santos, CDU (2005-2009), Jorge Pulido Valente, PS (2009-2013) e João Rocha, CDU (2013-2017).
O socialista Paulo Arsénio, eleito em 2017, quer pôr fim a este “feitiço”, embora admita: “Os búzios e as cartas não estão a meu favor”.
Aos 49 anos, o autarca, socialista desde 1991, recandidata-se para dar continuidade ao projeto iniciado há quatro anos, quando venceu na capital do Baixo Alentejo e recuperou para o partido uma câmara que, desde 1974, só entre 2009 e 2013 não tinha pertencido ao PCP ou a coligações lideradas pelos comunistas.
“Apresentámos um projeto alicerçado em três pontos que estão em plena execução, mas não totalmente concluídos. Portanto, não me choca repetir os pontos de há quatro anos, que são recuperar, promover e valorizar o concelho”, sustenta.
Para o autarca, “há muita coisa ainda por recuperar”, que merece “ser valorizada ainda mais do que já tem sido”, e é possível “promover ainda mais o concelho”.
Está, pois, disposto a fazer “como o Sporting” e a quebrar a ‘malapata’ das reeleições no concelho: “As tradições existem para ser quebradas, por isso, vamos lá”, afirma.
O Sporting, de resto, deu este ano a Paulo Arsénio uma alegria que já não vivia desde 2002, mas, na noite da reconquista do título, limitou-se a ver o jogo “com alguns amigos”, em casa.
Sócio do clube desde 1991, inscreveu-se nos ‘leões’ porque “na altura estudava em Lisboa” e podia “ir ver os jogos durante a semana”. Já os fins de semana eram passados em Beja, não nas bancadas em volta de um relvado, mas dentro das quatro linhas, na dureza dos campos pelados.
“Sempre mantive uma relação muito estreita com a cidade e as suas freguesias. Joguei muitos anos futebol no [campeonato do] INATEL, o que fazia com que fosse jogar a praticamente todas as aldeias com frequência”, recorda.
A carreira no Albernoa Futebol Clube acabou por ficar para trás, até porque a “proposta do Real Madrid” nunca apareceu, diz, de novo em tom de brincadeira.
E é, aliás, com boa disposição que Paulo Arsénio gosta de estar, não só na vida, como na política.
“Costumo ser uma pessoa muito divertida e bem-disposta. Quando estamos na política, não temos de estar sempre com ar sisudo, zangado, isso não nos leva a nada”, argumenta.
Um “mau Escorpião”, porque a “teimosia habitual dos nativos deste signo” só se manifesta “pontualmente”, nas suas próprias palavras, o líder da autarquia diz que a sua maior virtude, que “devia ser uma qualidade natural das pessoas”, é ser “completamente honesto”.
“Sou uma pessoa transparente, que diz pela frente o que tem a dizer. Digo muitas vezes ‘não’, quando tenho de o fazer, por muito que custe ao outro lado ouvir uma resposta com essas características”, autoavalia-se, após insistência da Lusa, sem querer ser “juiz em causa própria”.
A política, nomeadamente a presidência da câmara, tornou-se em 2017 na atividade exclusiva do agora recandidato, que realça ter tido um percurso de vida “absolutamente normal”.
Com um ano, emigrou com os pais para a Alemanha, onde viveu até 1982, ano em que regressou a Portugal, com “sensivelmente 11 ou 12 anos”, para viver em Beja.
Fez o ensino preparatório e secundário na cidade, antes de se licenciar em História na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde também se pós-graduou em História Contemporânea (séculos XIX e XX).
Além de diversos cargos ou funções associativas, foi deputado do PS no parlamento, eleito por Beja (1998-1999), e, depois, começou a trabalhar na antiga Direção-Geral dos Impostos e atual Autoridade Tributária e Aduaneira.
O atual executivo municipal é constituído por quatro eleitos do PS e três da CDU.