Foto: National Geographic Portugal

Segundo os resultados do censo, desenvolvido no âmbito do projeto “Searas com biodiversidade: Salvemos a Águia-caçadeira”, entre 2022 e este ano a população desta ave situa-se entre os 119 e 207 casais.

“Estamos perante um declínio muito acentuado, de 76 a 79% em apenas 10 anos, o que prova que a espécie se encontra a caminho da extinção caso não sejam implementadas medidas de emergência eficazes de conservação”, avançou o coordenador sénior do projeto e investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto.

Este declínio da espécie “é alarmante e está fortemente ligado às alterações nas práticas e políticas agrícolas em Portugal”, à semelhança do que se verifica com outras espécies de aves agrícolas prioritárias como o sisão, afirmou João Paulo Silva.

“Se compararmos a nova distribuição da espécie com os atlas de distribuição anteriores é precisamente no Alentejo que se verificam os declínios mais acentuados. A substituição de cereais para grão por fenos para alimentar o gado resulta em ações de corte da cultura muito mais antecipadas, colocando em risco os ninhos”, salientou.

A águia-caçadeira é uma ave migratória que inverna em África e escolhe a Europa para se reproduzir, fazendo pequenas colónias e ninhos no solo, nomeadamente em campos de cereais, estando dependente das práticas agrícolas.

Na zona de Trás-os-Montes também é evidente "a contração e fragmentação" desta ave, acrescenta um técnico superior da Palombar, parceira do projeto, Luís Ribeiro.

“Monitorizámos colónias grandes em 2022 que simplesmente desapareceram em 2023. Se morreram durante as ações de corte de fenos ou se se deslocaram para outras áreas, como Espanha, é algo que ainda temos de aferir”, disse.

O censo nacional da águia-caçadeira, que teve por objetivo recolher dados para um projeto nacional de conservação da espécie, identificando os locais onde persiste e quantificando a sua abundância, colocou em evidência a necessidade de se implementarem medidas urgentes para a salvaguarda da espécie, concluíram os responsáveis.

Acrescentando que tal passa “necessariamente pela disponibilização e proteção de searas para grão, habitat de nidificação mais importante”.


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