No BCP arrancou na semana passada o plano de redução de trabalhadores, com o banco a contactar cada um dos funcionários que quer que saia e a apresentar as condições da rescisão (desde logo valores das indemnizações). Os trabalhadores poderão sair por reformas antecipadas (para quem tem 57 anos ou mais) ou em rescisões por mútuo acordo. Neste caso, quem sair em rescisão por acordo não acede a subsídio de desemprego.

Contudo, o banco também admitiu que poderá recorrer a “medidas unilaterais” e, na semana passada, em reunião com sindicatos, falou mesmo em despedimento coletivo, indicando que abrangerá "todos os que não aceitem o processo de negociação".

A intenção do BCP é que saiam até 1.000 trabalhadores, segundo os sindicatos filiados na UGT (Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal, Sindicato dos Bancários do Centro e Mais Sindicato).

Já entre 2012 e 2020, o BCP tinha reduzido quase 2.000 trabalhadores em Portugal, tendo no final do ano passado 7.013 funcionários.

Também o Santander Totta admitiu recorrer a despedimentos.

No final de abril, disse que no primeiro trimestre acordou a saída de 68 trabalhadores e anunciou o despedimento de mais 100 a 150 funcionários "cujas funções se tornaram redundantes". Em causa estão sobretudo trabalhadores de balcões fechados a quem foi proposta a saída mas que não aceitaram.

No início de maio, após conversas com sindicatos filiados na UGT, o banco decidiu adiar "temporariamente" as medidas unilaterais de saídas de trabalhadores.

O Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários organizou vários protestos contra os despedimentos, pedindo um programa de rescisões voluntárias faseado no tempo, sem pressões e com condições justas e equilibradas.

Contactada pela Lusa, fonte oficial remeteu mais informação para o final do mês, uma vez que ainda estão a ser avaliadas as adesões voluntárias às saídas. Quem sair em rescisão por mútuo acordo não tem direito a subsídio de desemprego.

Da parte sindical, fontes contactadas pela Lusa temem que também o Santander Totta avance para um processo mais musculado de saída de pessoal, já que as informações que têm é de que estão a aceitar sair menos trabalhadores do que os que o banco quer.

No final de 2020, o Santander Totta tinha 5.980 trabalhadores.

Segundo vários dirigentes sindicais contactados pela Lusa, este ano ascenderão a milhares as saídas de trabalhadores dos principais bancos. Consideram ainda que os processos serão mesmo mais agressivos do que os que decorreram aquando da última crise e a intervenção da ‘troika’, desde logo porque há grandes bancos a admitir fazer despedimentos, porque as indemnizações propostas são agora mais baixas e até porque não é igual despedir 1.000 trabalhadores num total de 8.000 ou no total de 6.000.

Da parte dos bancos, as razões para reduzir pessoal são genericamente as mesmas em todos. Justificam com a evolução tecnológica, a mudança de hábitos dos clientes (poucas idas a agências, interação à distância), a fraca rentabilidade do negócio, a necessidade de adaptar os custos a um negócio em mudança e a melhoria da eficiência.

O banco Montepio anunciou em setembro de 2020 um “plano alargado” de saída de trabalhadores, através de reformas antecipadas e de rescisões de contratos de trabalho, com o objetivo de reduzir entre 600 a 900 funcionários.

Segundo fonte oficial do Montepio, na primeira fase do programa (no último trimestre de 2020), saíram 235 funcionários, dos quais 124 reformas e 111 rescisões por mútuo acordo (que dão acesso a subsídio de desemprego, já que o banco obteve do Governo o estatuto de empresa em reestruturação). Já este ano começou a segunda fase do programa, com propostas para saídas por rescisão por mútuo acordo.

No final de 2020, o grupo banco Montepio tinha 3.721 funcionários.

Na Caixa Geral de Depósitos (CGD), de onde entre 2017 e 2020 saíram cerca de 2.000 trabalhadores no âmbito do processo de reestruturação, a administração tem dito que novas metas quantificadas de redução de pessoal só existirão quando estiver aprovado o plano para 2021-2024, mas é sabido que o banco público continua a ter abertos planos de rescisão por mútuo acordo e reformas antecipadas.

No final de 2020, a CGD tinha 6.583 empregados em Portugal. No primeiro trimestre, disse fonte oficial, saíram “73 funcionários por reformas, rescisões por mútuo acordo ou outras razões”.

O Novo Banco, que entre final de 2014 e 2020 reduziu 2.200 funcionários, mantém propostas de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo (que garantem acesso a subsídio de desemprego), segundo fontes dos trabalhadores.

Mas os dados que para já existem são os mesmos divulgados em fevereiro, quando o banco indicou que o objetivo é reduzir 750 trabalhadores até 2023 pois, segundo fonte oficial, não há novidades.

No final de 2020, o Novo Banco tinha 4.582 trabalhadores.

No BPI, fonte sindical indicou que o banco está a propor reformas antecipadas a funcionários. Contudo, os responsáveis do banco não têm dado informações publicamente sobre projetos de redução de pessoal.

“Neste momento não temos nenhum plano de saídas estruturado em curso, mas podem sempre ocorrer negociações de saídas, por mútuo acordo. Nestas circunstâncias, a pergunta não se aplica”, disse fonte oficial do BPI. O banco fechou 2020 com 4.622 trabalhadores.

Segundo as séries longas do Banco de Portugal, entre 2009 e 2019, os bancos que operam em Portugal reduziram quase 13 mil trabalhadores. Já em 2020, apenas nos cinco principais bancos que operam em Portugal (CGD, BCP, Novo Banco, Santander Totta, BPI), foram cortados 1.200 postos de trabalho.

A redução de estruturas (saída de trabalhadores e fecho de agências) é comum a toda a banca europeia. A redução de funcionários que já vinha desde a crise anterior (iniciada em 2008) deverá ganhar agora nova força, alavancada na crise pandémica. Segundo analistas, os bancos têm alicerçado os lucros na redução de custos.

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