Bispo de Beja diz que migrantes de Odemira já vivem em precariedade "há muitos anos"
O bispo de Beja, João Marcos, afirmou hoje que os trabalhadores migrantes em explorações agrícolas como as de Odemira já vivem em condições precárias “há “muitos anos”, embora o problema só tenha “rebentado agora”. “Isto não é uma coisa de agora. Rebentou agora, mas há uns cinco anos fiz uma visita pastoral a Odemira [distrito de Beja] e visitei algumas dessas empresas e vi que havia esses problemas”, contou à agência Lusa.
No entanto, João Marcos, que preside à diocese de Beja desde 2014, ressalvou que não seria preciso visitar as empresas para tomar conhecimento do aumento de migrantes naquela região do sudoeste alentejano.
“Basta chegar a São Teotónio [freguesia do concelho de Odemira] e vê-se rua abaixo, rua acima, grupos de homens asiáticos. Toda a gente sabe disso”, apontou.
Segundo o bispo de Beja, tanto a paróquia de Odemira, como as dos outros locais, têm tentado ajudar a suprir as necessidades desses trabalhadores, mas “não têm capacidade para resolver um problema desta magnitude”.
“A paróquia de Odemira tem ajudado. Lembro-me de um casal de indianos que ainda estão alojados na paróquia. Para nós é uma realidade à qual já estávamos habituados. É uma realidade dramática”, observou.
Questionado pela Lusa sobre a existência de outras situações dramáticas no distrito de Beja, João Marcos ressalvou que “em nada se comparam com a realidade vivida no concelho de Odemira, em particular em São Teotónio.
“No concelho de Ferreira há uma empresa muito grande de uvas sem grainha que chegam a ter na altura das vindimas 1.100, 1.200 empregados, mas são pessoas [os proprietários] que têm muito cuidado com os assalariados e procuram, juntamente com a Câmara, encontrar casas para essas pessoas”, contou.
São Teotónio e Longueira-Almograve são as duas freguesias do concelho de Odemira, no distrito de Beja, que estão em cerca sanitária desde a semana passada, devido à elevada incidência de covid-19, sobretudo entre os trabalhadores agrícolas, muitos deles imigrantes.
Na altura, o Governo determinou "a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional”, da “totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes” que compõem o complexo turístico ZMar Eco Experience, na freguesia de Longueira-Almograve, para alojar pessoas em confinamento obrigatório ou permitir o seu “isolamento profilático”.
Esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, o Governo decidiu que a cerca sanitária aplicada nas duas freguesias vai manter-se, mas com “condições específicas de acesso ao trabalho”, a partir de segunda-feira.
Na quinta-feira de madrugada, um total de 49 imigrantes que trabalham na agricultura no concelho, todos com testes negativos para o novo coronavírus, que provoca a covid-19, foram realojados, tendo uns sido colocados no Zmar e outros na Pousada da Juventude de Almograve.
Entretanto, O Supremo Tribunal Administrativo admitiu hoje a providência cautelar interposta pelo advogado de proprietários de casas no Zmar, em Odemira, o que vai suspender temporariamente a requisição civil do complexo, determinada pelo Governo “por motivos de urgência e de interesse público e nacional”.