Cáritas: estatísticas oficiais da pobreza em Portugal refletem leituras do passado
A Cáritas faz a "leitura" das estatísticas oficiais da pobreza e exclusão social em Portugal e mesmo com melhorias considera que “o apoio coletivo à erradicação da pobreza em Portugal permanece um desígnio nacional”, ainda mais, porque as estatísticas oficiais refletem leituras do passado e não aquilo que se passa no presente.
No atual quadro de reconhecidas dificuldades de um conjunto elevado de famílias portuguesas, refletido nas solicitações que têm vindo a crescer, as estatísticas da pobreza e exclusão social em Portugal, divulgadas pelo INE, podem causar, segundo a Cáritas, alguma “perplexidade” mas “uma leitura cuidada permite conciliar a perspetiva estatística e a realidade concreta experienciada no terreno”
Ainda segundo a Cáritas, “apesar do esforço louvável do INE em atualizar com celeridade as estatísticas da pobreza em Portugal, a verdade é que estas representam leituras do passado” porque “no presente, os principais desafios económicos que se colocam às famílias portuguesas são o aumento do custo de vida, o aumento das prestações bancárias e a manutenção do emprego nas situações mais precárias.” São desafios que ainda não encontram tradução nas estatísticas, mas já se vivem na realidade diária da rede Cáritas.
Afirma ainda a Cáritas que “estes dados baseiam-se num inquérito a alojamentos familiares. Casos de enorme fragilidade e exclusão, como as pessoas sem-abrigo, imigrantes temporários ou indivíduos institucionalizados, não são abrangidos na análise.”
Para a Cáritas “algumas destas situações têm ganho relevo no contexto da pandemia e não podem ser ignoradas na resposta social, mesmo que o sejam nas estatísticas oficiais.”
Diz também a Cáritas que “os rostos por detrás das estatísticas da pobreza não são imutáveis. Todos os anos, muitas famílias caem numa situação de pobreza e outras conseguem emergir dessa condição”
De acordo com a Cáritas "os eventos que determinam a queda em situações de pobreza ou exclusão, como a perda de um emprego precário, uma alteração súbita no agregado familiar ou uma situação de doença não vêm com pré-aviso” e muitas dessas famílias não são identificadas como pobres, embora tenham precisado de um suporte pontual, precisamente para o deixarem de ser.
A Cáritas admite que “no passado recente, houve progressos estruturais na evolução da pobreza em Portugal” mas “é muito elevada e superior à observada em muitos parceiros europeus”, por isso, considera que ”o apoio coletivo à erradicação da pobreza em Portugal permanece um desígnio nacional.”
Recorde-se que o INE publicou recentemente uma atualização das estatísticas da pobreza e exclusão social em Portugal. Os dados, baseados no Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, permitem avaliar a evolução do risco de pobreza até 2021 e da taxa de privação material e social até 2022. Tanto a taxa de risco de pobreza como a taxa de privação material e social situavam-se em 2021 em níveis próximos dos observados antes da pandemia. Em 2022, a taxa privação material e social, incluindo a privação severa, diminuiu para valores historicamente baixos.