Cartas Portuguesas de Mariana Alcoforado com nova edição
A obra, conta com a tradução comentada do historiador de Arte José António Falcão, tem apresentação agendada para Beja, no dia 5 de outubro, no Auditório Manuel Castro e Brito, Parque de Feiras e Exposições e vem acrescentar importantes reflexões sobre o impacto cultural de Cartas Portuguesas, de Mariana Alcoforado, na cultura europeia.
Inserida na comemoração dos 300 anos da morte de Soror Mariana Alcoforado e inscrita na tradição do monumental legado alcoforadiano, os escaparates nacionais acolhem uma nova edição da obra Cartas Portuguesas de Mariana Alcoforado, com a chancela da editora portuguesa E-Primatur. O clássico da literatura atribuído a Mariana Alcoforado (1640-1723), freira no convento da Conceição de Beja, inclui nesta nova edição um detalhado Estudo Histórico e uma nova tradução comentada, da autoria do historiador de Arte José António Falcão, museólogo e docente universitário.
O Estudo Histórico acompanha o conjunto de teorias e factos recolhidos ao longo dos séculos, acrescentando ainda alguns novos dados não apenas sobre as pessoas históricas, mas também sobre o impacto cultural de uma obra que influenciou a Europa literária durante séculos e continua a prender, como desde o primeiro dia, a atenção dos leitores.
Cartas Portuguesas de Mariana Alcoforado é apresentada a 5 de outubro próximo (16h00), em Beja (Auditório Manuel Castro e Brito, Parque de Feiras e Exposições), com a presença do historiador António Araújo (professor da Universidade Nova de Lisboa, assessor do Tribunal Constitucional e membro da Comissão Executiva e do Conselho de Administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos).
Mariana Alcoforado, a quem são atribuídas as célebres Cartas Portuguesas, nasceu em Beja, em 1640, no seio de uma conhecida família da cidade. Por decisão dos pais, foi destinada, muito jovem, à vida religiosa. Ingressou como educanda, ainda antes de completar 11 anos, no convento de Nossa Senhora da Conceição, a mais importante instituição religiosa de Beja, onde professou e tomou votos aos 16 anos. Durante a sua longa vida conventual, exerceu, entre outros cargos de responsabilidade, os de porteira, escrivã e vigária. Faleceu em 28 de Julho de 1723.
O nome de Madre D. Mariana Alcoforado, apenas lembrado nos papéis do arquivo conventual, ficaria sepultado, à imagem dos de tantas outras freiras daquela casa, se não fosse o caso de um erudito parisiense, Jean-François Boissonade, em 1810, ter revelado um dado sensacional: foi ela a autora das famosas Lettres Portugaises, cinco cartas de amor dirigidas por uma certa Mariana, religiosa num convento de Portugal, a Noël Bouton (1636-1715), mais tarde marquês de Chamilly, militar da força expedicionária francesa que combateu nas fileiras lusas durante a fase final da Guerra da Restauração, entre 1664 e 1667. Figura muito conhecida da corte de Luís XIV, foi um dos militares preferidos do Rei Sol e, após um longo e notável percurso castrense, ascendeu a marechal de França.
Desde a sua publicação, em 1669, sob a chancela do editor parisiense Claude Barbin, até hoje, esta obra retrata uma dramática paixão que faz parte do património literário universal. Constituem também um clássico da literatura francesa do tempo de Luís XIV, cuja escrita, plausivelmente inspirada pela história real – e pelas cartas do punho da própria Mariana Alcoforado –, é atribuída a um notável autor desse período, Gabriel Joseph de Lavergne, conde de Guilleragues (1628-1685).
Especialista de renome internacional no âmbito da arte cristã, José António Falcão tem consagrado grande parte da sua atividade ao estudo dos bens culturais do Alentejo, o que lhe granjeou importantes prémios nacionais e europeus na área do património cultural. Dirigiu entre 1984 e 2017 o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. A profissão museológica já o levou a exercer funções, entre outras instituições, no Museu de Évora, na Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça (de que foi conservador e diretor em etapas cruciais da história desta instituição), no Museu Calouste Gulbenkian, no Museu da Academia das Ciências de Lisboa e na Direcção-Geral do Património Cultural. Foi também presidente do Opart, a maior empresa pública no âmbito da Cultura. Lecionou em universidades de Portugal, Espanha, Brasil e Estados Unidos da América. Pertence à Academia Nacional de Belas-Artes e à Academia Portuguesa da História e a instituições similares de vários países. Da sua vasta bibliografia fazem parte obras de referência para o conhecimento da identidade portuguesa, como Entre o Céu e a Terra, As Formas do Espírito, No Caminho sob as Estrelas ou Face a Face: Representações do Sagrado na Arte Europeia.