Foto: Justino Engana

No pedido de demissão, a que a agência Lusa teve acesso, os 12 chefes de equipa de Medicina Interna consideram que “as condições atuais não permitem assegurar cuidados aos doentes com a qualidade e segurança devidas” no Serviço de Urgência (SU) do hospital de Beja, gerido pela Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA).
Por isso, os especialistas apresentaram a demissão dos cargos “até que seja feita uma reavaliação da situação” do SU, “com resolução da carência de recursos humanos médicos e reapreciação das competências dos chefes de equipa”.
Os médicos referem que a decisão de apresentarem a demissão foi tomada agora “em virtude de uma situação ‘arrastada’ de declínio das condições de trabalho e de organização” do SU, “para a qual foi solicitada a atenção do conselho de administração” da ULSBA, “por inúmeras vezes, sem qualquer resposta efetiva”.
Os chefes de equipa demissionários consideram “aceitável um prazo de duas semanas para agendamento de uma reunião entre os elementos interessados” e avisam que, “na ausência de resposta, estão previstas medidas adicionais”.
Os 12 chefes de equipa também já pediram escusa de responsabilidade civil, juntamente com mais quatro médicos especialistas do hospital de Beja.
Segundo os médicos demissionários, a pandemia de covid-19 “veio agravar as condições, já de si precárias, em que o trabalho é desenvolvido” nas urgências do hospital.
A “sobrecarga de trabalho trazida pela pandemia atingiu maioritariamente o serviço de Medicina Interna”, cujos elementos viram a sua carga laboral diária e semanal aumentar por vários motivos.
A criação do “Serviço de Urgência Covid-19”, onde “a observação de doentes está praticamente à responsabilidade exclusiva da equipa de Medicina Interna”, do serviço “Medicina Covid-19”, com “consequente expansão do número total de camas à responsabilidade” desta especialidade, da consulta de “Follow-up-Covid-19”, nos mesmos pressupostos, tal como “outras solicitações extra”, são alguns dos motivos invocados.
Os médicos destacam que, durante este período, o serviço de Medicina Interna “sofreu” uma “redução” de elementos, “ao invés de um reforço”, apesar de ter “aumentado a abrangência da sua área de intervenção”.
Segundo os signatários, “só em 2021, os assistentes hospitalares do Serviço de Medicina Interna realizaram uma média de 600 horas extraordinárias” e, atualmente, apresentam “grande desgaste físico e mental”.
A par destas problemáticas, os 12 médicos também salientam a inexistência de um diretor do SU, a indefinição do papel de chefe de equipa, “a ausência sistemática, e cada vez mais frequente, de elementos do atendimento geral, sobrecarregando a especialidade de Medicina Interna”, e a “referenciação sem critério” de utentes dos centros de saúde e dos serviços de urgência básica para o SU do hospital de Beja.
Lamentam “a necessidade crescente de transportes pela Medicina Interna a partir do SU” para outros hospitais, o “que deixa muitas vezes” a equipa daquela especialidade “desfalcada, com apenas dois elementos (e pontualmente com um)”.
“Sendo que se um deles estiver” no Serviço de Urgência Covid-19, “resta apenas um elemento de Medicina Interna para dar resposta a toda a urgência não covid-19 (e durante o período noturno a todo o hospital)”.
Os médicos também criticam “a inexistência de contratação de internistas externos para colmatar as falhas na escala ou por motivos de baixa médica, sendo estas exclusivamente asseguradas pelo ‘staff’ interno ou não sendo asseguradas de todo”.
O documento com o pedido de demissão foi assinado pelos 12 chefes de equipa e enviado à presidente do conselho de administração, Conceição Margalha, ao diretor clínico de Cuidados Hospitalares, José Aníbal Soares, e ao diretor do Serviço de Medicina Interna, José Vaz.
Outros seis médicos do hospital de Beja subscreveram o documento em sinal de solidariedade para com os 12 chefes de equipa demissionários.

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Verdade eu acho que á muito tempo os médicos têm razão não á condições o governo de António Costa quer fazer omeletes sem ovos . Os doentes é que vão sofrer com isto.

Laura Maria Rocha Cascalheira

18/01/2022

Infelizmente já necessitei algumas vezes de ser atendida no SU por vários motivos . Por muito prestaveis que fossem todos os médicos e enfermeiros, assim como auxiliares ,foi impossível ser atendida com as condições necessárias para a minha doença. Urgência cheia , médicos cansados e angustiados por não poderem trabalhar naquelas condições ,um barulho intenso , quem vai para lá doente ainda vem pior, quanto mais as pessoas que ali trabalham . Com tudo isto o que eu quero dizer é que necessitamos de um hospital com outras condições para satisfazer as necessidades do utente assim como a dos profissionais que ali estão a trabalhar.

Luísa Pereira

18/01/2022

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