Atualmente, a coleção “conta já com mais de mil pranchas originais de banda desenhada (BD) de autores tão importantes como Carlos Botelho, Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento, José Ruy, Vitor Péon, Fernando Relvas ou Filipe Abranches”, precisou Paulo Monteiro.

Segundo o também técnico da Câmara e diretor da Bedeteca e do Festival Internacional de BD de Beja, a coleção é maioritariamente composta por pranchas doadas pelos próprios autores ou pelas suas famílias e por alguns colecionadores, mas também inclui livros, alguns “raros”, fotografias, cadernos de esboços, apontamentos, guiões e correspondência.

O museu “tem diversos graus de importância”, começando pelo facto de “ser o primeiro de BD em Portugal”, afirmou Paulo Monteiro, que falava à Lusa após ter apresentado hoje o projeto no Irudika - Encontro Profissional Internacional de Ilustração, a decorrer até sábado na cidade de Vitoria-Gasteiz, na comunidade autónoma do País Basco, em Espanha.

“A ideia é contar a história da BD portuguesa, desde 1850 até ao início do século XXI”, explicou, referindo que os autores mais jovens, em início de percurso, também estarão presentes no museu, através da mostra dos seus trabalhos numa mesa eletrónica ou em exposições temporárias.

De acordo com o responsável, o equipamento vai “ocupar um espaço que é importante preencher” em Portugal, que, “apesar de ter uma história de BD riquíssima”, é “um dos poucos países da Europa Ocidental” que não tem um museu dedicada à nona arte.

Por outro lado, frisou o também autor de BD, o museu vai permitir reunir "uma parte significativa" do acervo português da nona arte, que é “fantástico”.

“Basta pensar em nomes como Rafael Bordalo Pinheiro ou Stuart de Carvalhais para perceber que [a criação do museu] é uma lacuna que urge preencher”, defendeu, frisando que Portugal foi “um dos primeiros países do mundo a ter BD”.

Ainda não haver um museu dedicado à BD portuguesa é “uma situação incompreensível, e até injusta, para com a memória dos nossos autores”, vincou.

“É um legado maravilhoso que devemos honrar, protegendo-o, em primeiro lugar, e, depois, partilhando-o com o público, dando-o a conhecer”, defendeu.

Segundo Paulo Monteiro, a primeira história de BD publicada em Portugal, de António Nogueira da Silva, data de 1850.

Desde então, têm aparecido em Portugal autores “incríveis, com movimentos muito importantes no contexto da BD europeia e mundial”, os quais “dão corpo a uma história da BD [portuguesa] riquíssima e com pouco paralelo noutros países da Europa”.

Um dos autores pioneiros da BD portuguesa e europeia é Rafael Bordalo Pinheiro, o criador da personagem satírica de crítica social Zé Povinho, que se tornou um símbolo do povo português, lembrou.

O museu também vai “promover” e trazer “visibilidade e estatuto” à BD e aos autores portugueses, o que “é necessário numa arte que durante muito tempo foi secundarizada em relação a outras”.

“Não será um museu estático”, já que terá uma "forte componente multimédia", irá acolher a Bedeteca de Beja, a funcionar na Casa da Cultura, e promoverá ateliês, nomeadamente de BD, serigrafia e ilustração.

Será “também um polo de atração” de artistas de BD, explicou, referindo que "não é um equipamento para servir só o concelho" de Beja, "mas também para servir um bocadinho todo o país".

O museu terá 12 salas - sete para a exposição permanente, três para a Bedeteca de Beja e o acervo bibliográfico e duas para exposições temporárias -, uma loja, um espaço para realização de ateliês e um terraço “com vista privilegiada para a planície alentejana”.

Na cidade de Beja, existe desde 2005 uma das poucas bedetecas em Portugal e decorre, anualmente, um festival internacional de BD, projetos dirigidos por Paulo Monteiro.

Também existe há 25 anos o coletivo Toupeira, composto por mais de 30 autores, que vivem da BD e da ilustração.

A cidade tem-se afirmado como "um dos principais centros" de difusão de BD em Portugal e, por isso, a câmara, em 2016, durante o executivo liderado pelo comunista João Rocha, decidiu lançar o projeto do museu idealizado por Paulo Monteiro.

Em declarações à Lusa, o atual presidente do município, o socialista Paulo Arsénio, disse ter a “expectativa” de criar o museu neste mandato, que termina em 2025.


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