O primeiro voo civil a partir do aeroporto alentejano saiu às 18:25 de 13 de abril de 2011 rumo à ilha do Fogo, em Cabo Verde, com 70 viajantes a bordo do “B.Leza”, um avião Boeing 757-200 da companhia Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV).

A viagem foi organizada em parceria pela Câmara de Ferreira do Alentejo e pela ESDIME – Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste, com sede em Messejana, no concelho de Aljustrel, e incluiu uma missão empresarial ao município cabo-verdiano de São Filipe.

“Foi um momento de grande alegria e satisfação. O aeroporto era algo que vinha sendo reivindicado há bastantes anos e, naturalmente, naquela altura, sentimos que estávamos a fazer história”, recorda à agência Lusa Aníbal Reis Costa, na altura presidente da Câmara de Ferreira do Alentejo.

O antigo autarca não esconde que esse foi um dia “muito gratificante em termos pessoais”, mas também “para a região”.

“Anos antes, tínhamos tido a inauguração da Barragem do Alqueva, o Porto de Sines avançava com grande dinâmica, a autoestrada [até Beja] estava projetada e a inauguração do aeroporto era assim uma espécie de ‘cereja no topo do bolo’”, diz o atual vice-presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Alentejo.

David Marques, agora vice-presidente da Câmara de Castro Verde, liderava, então, a ESDIME e esteve igualmente ligado à organização do voo, embarcando para a ilha do Fogo.

“Recordo esse dia com muita satisfação”, conta à Lusa, considerando que o voo inaugural do aeroporto foi, naquela época, “uma prova evidente de que aquela infraestrutura tinha todas as condições para cumprir o seu papel”. 

“Ter participado naquele momento, em conjunto com muita gente da região, foi uma sensação de grande satisfação e orgulho, numa experiência muita positiva e da qual guardo muito boa memória”, acrescenta.

O aeroporto de Beja, que resulta do aproveitamento civil da Base Aérea n.º 11, representou um investimento público de 33 milhões de euros e, no dia da partida do voo da TACV para a ilha do Fogo, foram centenas as pessoas a passar pela infraestrutura, entre as quais o então ministro das Obras Públicas, António Mendonça.

O corrupio de convidados, trabalhadores, agentes de segurança, tripulantes, viajantes e jornalistas era evidente e não sai da memória de Jorge Lopes, outro dos passageiros da viagem.

“Foi um dia muito bonito. O espírito da partida no aeroporto e da receção em Cabo Verde foi espetacular e senti que havia ali futuro. Senti que o aeroporto de Beja podia ter futuro e ser uma mais-valia muito maior para o Alentejo”, lembra este empresário, natural de Aljustrel.

Desde o dia 13 de abril de 2011, passaram-se 10 anos, que deixam uma sensação de “frustração” a muitos dos que participaram neste primeiro voo civil da infraestrutura.

“É uma tristeza ter-se feito o investimento que se fez e ter-se metido o aeroporto de lado”, observa Jorge Lopes, lembrando “que os aeroportos em Londres, por exemplo, chegam a estar mais distantes da cidade do que Beja está de Lisboa”.

Em Beja “gastou-se o dinheiro, fez-se o investimento e agora joga-se fora? Não pode! Acho que o aeroporto de Beja podia ser uma mais-valia, não apenas para os alentejanos, pois tem muito potencial e era uma coisa que não ficava tão cara quanto isso. Há é falta de vontade política”, frisa.

David Marques tem uma opinião muito semelhante e não esconde que a atual situação do aeroporto lhe causa “desilusão”.

“A sensação com que ficamos é que há, infelizmente, falta de vontade de instituições e de pessoas dentro das instituições para concretizar projetos que, muitas vezes, precisam apenas de um pequeno ‘passo’ ou de uma pequena decisão”, aponta.

Ainda assim, assinala que “há sinais positivos que demonstram que, se calhar, vai tardar, mas vai acontecer uma utilização mais efetiva do aeroporto ao serviço não só da região, mas também do país”.

O mais otimista de todos é Aníbal Reis Costa, para quem o aproveitamento da infraestrutura é “inevitável, mais cedo ou mais tarde”.

“Penso que se afirmará naturalmente. Iremos estar mais ou menos tempo à espera, mas o país não se pode dar ao luxo de desperdiçar uma infraestrutura destas. É uma questão de tempo, quase uma inevitabilidade”, conclui.

 

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