Eleições: Históricos do PCP alertam para prejuízo que causa ausência de deputados no Alentejo
Dirigentes históricos do PCP no Alentejo encararam hoje como negativa para a região a ausência de deputados do partido pelos círculos alentejanos, pela primeira vez desde o 25 de Abril, e pediram uma reflexão interna.“É preciso deixar passar algum tempo para se perceber exatamente o que se passou” no círculo de Beja, mas não há dúvidas de que a região “fica a perder” sem um deputado da CDU (PCP-PEV), afirmou hoje à agência Lusa o antigo parlamentar comunista António Rodeia Machado.
Nas eleições legislativas de domingo, a CDU perdeu o deputado por Beja na Assembleia da República, João Dias, que estava no hemiciclo desde 2018 e não conseguiu agora ser reeleito, ficando os mandatos naquele círculo eleitoral distribuídos por PS, Chega e AD, um para cada.
Com este resultado em Beja, a que se somam as votações da CDU nos círculos de Évora (deixou de ter deputado nas eleições de 2022) e de Portalegre (deixou de ter no sufrágio de 1991), em que os comunistas voltaram a não conseguir qualquer mandato, o PCP ficou sem deputados eleitos pelo Alentejo, o que acontece pela primeira vez desde o 25 de Abril de 1974, mais precisamente desde as primeiras eleições livres em Portugal, realizadas um ano depois, para a assembleia constituinte.
Para Rodeia Machado, que foi deputado por Beja entre 1995 e 2005, “a eleição de um deputado pelo Chega [por aquele círculo] não vai de maneira nenhuma – antes pelo contrário – servir os interesses desta população”.
Também em declarações à Lusa, Abílio Fernandes, ex-deputado do PCP eleito por Évora e antigo presidente deste município, considerou que, sem deputados comunistas, “o Alentejo ficou sem voz na defesa dos principais interesses e potencialidades”.
“Estamos sujeitos às políticas nacionais, não temos responsáveis locais que lutem consequentemente pelas nossas potencialidades”, pelo que “vejo a desertificação e o abandono na linha de continuação”, sublinhou.
José Soeiro, que foi deputado comunista eleito por Beja, pela primeira vez entre 1983 e 1985 e, depois, de 2005 a 2010, defendeu igualmente à Lusa que, nas eleições de domingo, “o povo fez uma opção errada e vai sofrer consequências”.
O PCP acabou por ser vítima de “uma grande insatisfação do povo português contra as políticas que têm sido praticadas nos últimos 50 anos”, considerou, culpando PS, PSD e CDS-PP.
Para Rodeia Machado, uma reflexão sobre o resultado das eleições é “obrigatória no país e nas pessoas que votaram”, assim como o PCP também “tem de refletir maduramente sobre estas situações e as suas implicações no futuro”.
“É sempre útil refletir, analisar e procurar as causas, com o espírito de encontrar os caminhos para as respostas necessárias”, admitiu, por outro lado, José Soeiro.
Este antigo parlamentar do PCP disse ainda que “só um estudo amplo de opinião poderá mostrar as causas que podem estar por trás desta insatisfação” e dar pistas sobre “o voto num partido que contesta o regime democrático”.
Já Abílio Fernandes, eleito deputado por Évora na Assembleia da República em 2005, ‘apontou o dedo’ às sondagens e à comunicação social para explicar o resultado do PCP nestas legislativas.
“As sondagens, por exemplo, começam por dar só 1% para a CDU e, depois, chegamos ao fim e acabamos por ter 3,3%. Ou seja, era para termos um deputado e passamos a ter quatro”, o que “faz desanimar toda a gente”, referiu.
No distrito de Portalegre, Diogo Júlio, militante do PCP desde 1974 e antigo coordenador da União de Sindicatos do Norte Alentejano (USNA), atribuiu a perda de votação do partido à diminuição da população da região e insistiu que os comunistas têm de melhorar a comunicação para irem ao encontro do eleitorado e passarem a mensagem.
Ao mesmo tempo, admitiu que o eleitorado comunista ‘nasceu’ de “um Alentejo que já não existe”, onde o latifúndio predominava e a população rural era “muito escravizada”. Este domingo, acrescentou, os mais descontentes mostraram através do voto principalmente no Chega o seu protesto.
O PS venceu no círculo de Évora, com 32,79% (29.309 votos), elegendo Luís Dias. Os outros dois deputados eleitos foram Sónia Ramos, pela Aliança Democrática (AD), que junta PSD, CDS-PP e PPM, que alcançou 22,43% (20.049 votos), e Rui Cristina, pelo Chega, com 19,96% (17.846).
Em Beja, o PS também venceu, com 31,70%, e elegeu Nélson Brito, com o Chega logo a seguir, com 21,55%, e a eleição de Diva Ribeiro, seguindo-se a AD, com 16,74%, elegendo Gonçalo Valente.
Em Portalegre, o PS foi também o mais votado (34,05%, eleição de Ricardo Pinheiro), depois o Chega (24,59%, elegeu Henrique de Freitas) e em terceiro a AD (23,30%).
A AD conseguiu 79 deputados na Assembleia da República, nas eleições legislativas de domingo, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 deputados eleitos (18,06%).
A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. O Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.
Estão ainda por apurar os quatro lugares da emigração na Assembleia da República, que o PS ganhou em 2022, com três mandatos.