“Considero que esta ousadia da reitora” da Universidade de Évora (UÉ) é “um reconhecimento daquele período, em que não fui só eu”, mas sim “todo um coletivo e uma população” que colaboraram para “construir um país novo”, afirmou o ex-autarca, no final da cerimónia de atribuição do doutoramento.

Nas declarações aos jornalistas, Abílio Fernandes admitiu que foi surpreendido e que “esta homenagem não estava” no seu “programa”, uma vez que, já era “um cidadão pacato” e andava ocupado na sua vida e com a família.

“Foi surpresa, mas, ao mesmo tempo, foi muito gratificante, não tanto por mim pessoalmente, mas por tudo o que esta cidade e as pessoas fizeram durante aquele período em que todos nos podemos orgulhar de termos dado um grande salto na vida do nosso país para a democracia”, sublinhou.

Na cerimónia, na sala de atos do Colégio do Espírito Santo, esteve presente o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que se escusou a prestar declarações aos jornalistas, e outras personalidades.

Num discurso em que passou revista aos cerca de 25 anos em que foi presidente da câmara, sempre eleito em listas lideradas pelo PCP, o ex-autarca assinalou que o concelho passou de “40 mil habitantes em 1975” para “56 mil em 2001” e que, nesse período, foram “construídos cerca de 4.500 fogos”.

Segundo Abílio Fernandes, o município lançou então “as bases para o seu desenvolvimento integrado, procurando manter um equilíbrio social, cultural, patrimonial, urbanístico e económico na perspetiva de se consolidar, no contexto regional, nacional e internacional, como cidade de média dimensão da Europa”.

“Évora pode orgulhar-se de ter dado, após a Revolução de Abril e durante um quarto de século, um contributo exemplar na consolidação da democracia e do Poder Local Democrático, com reflexo indelével no bem-estar e qualidade da vida” da população, realçou.

Questionado pelos jornalistas sobre o motivo pelo qual considerou que houve ousadia da reitora da UÉ, Ana Costa Freitas, na atribuição do Honoris Causa, o ex-autarca comunista reconheceu que, nestas situações, “misturam-se questões político-partidárias”, pois, ele tem “um partido bem claro e definido”.

A reitora da UÉ referiu aos jornalistas que, quando uma academia atribui um doutoramento Honoris Causa a uma pessoa, é “pelo seu trabalho, independente de tudo o resto”.

“Abílio Fernandes deu 25 anos da sua vida à cidade e fez muito, porque consolidar o poder autárquico não é fácil e Évora também não é uma cidade difícil, até porque tinha muitos desequilíbrios sociais”, argumentou.

Ana Costa Freitas, que foi mandatária da candidatura da coligação liderada pelo PSD à presidência da Câmara de Évora nas autárquicas de 26 de setembro, admitiu que os dois têm partidos políticos diferentes.

“Mas os partidos políticos não se sobrepõem à pessoas. As pessoas são a parte importante da nossa sociedade. Os partidos políticos fazem política. Isto não é política, é o reconhecimento de mérito”, sustentou.

Atualmente reformado, Abílio Fernandes, de 83 anos, foi presidente da Câmara de Évora durante 25 anos, entre 1976 e 2001, para além de ter ocupado vários cargos no partido.

Depois de deixar a presidência do município, após perder as eleições para o PS, Abílio Fernandes foi eleito deputado da Assembleia da República em 2005, mas, em 2007, renunciou e passou o lugar a João Oliveira, atual líder parlamentar comunista.

Abílio Miguel Joaquim Dias Fernandes, natural de Moçambique, é licenciado em Finanças pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras de Lisboa.


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