Exposição em Aljustrel recorda greve de mineiros ocorrida há 100 anos
A fotografia de um pulmão com silicose e o casaco de um mineiro perfurado por uma bala da GNR integram uma exposição em Aljustrel, a inaugurar na terça-feira, sobre uma greve de mineiros realizada há 100 anos.
A exposição “Aljustrel - 100 anos, do Fundo à Superfície” vai ser inaugurada, às 16:00 de terça-feira, na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira, em Aljustrel (Beja).
A iniciativa, promovida por uma “comissão informal de aljustrelenses”, vai poder ser visitada até 04 de dezembro e conta com cerca de 80 painéis explicativos sobre os últimos 100 anos desta vila mineira, incluindo a fotografia de um pulmão com silicose, o casaco de um mineiro perfurado por uma bala da GNR e esculturas de mineiros.
Questionada pela agência Lusa, a organização explicou, através de correio eletrónico, que a mostra pretende recordar a greve dos mineiros de Aljustrel no inverno de 1922, “que durou quatro meses” e teve “grande repercussão a nível nacional e internacional”.
Esta greve “gerou uma imensa onda de solidariedade nos setores operários do país, o que se traduziu no acolhimento de mais de uma centena de crianças [de Aljustrel] por famílias de Beja, Lisboa e Barreiro, entre outros locais, para fugirem à fome”, recordaram.
A greve terminou a 21 de janeiro de 1923, quando o então diretor das minas de Aljustrel garantiu o regresso dos mineiros ao trabalho, “sem represálias”, tendo as crianças regressado às suas famílias a 17 de fevereiro de 1923, resumiram.
É a partir desta “história dramática” do concelho que os promotores da exposição tentam chegar “até à atualidade”, para revelar “a rica história da sua comunidade” e evidenciar “o valor das entranhas da terra que, uma vez explorada, conduz à inevitável riqueza à superfície”.
A mostra pretende também destacar “a existência do mineiro, que reparte a sua vida entre as trevas do fundo da mina e a luz redentora da superfície”, assim como ilustrar “os avanços e recuos, as lutas e conquistas alcançadas por melhores condições de vida” e retratar “o historial tão rico em acontecimentos dos últimos 100 anos nesta terra mineira, cujas jazidas são exploradas há mais de 2.000 anos”.
O objetivo é ainda “dar a conhecer às gerações vindouras a sua história e as suas raízes”, pois “sem passado, não há futuro”, acrescentou a organização à Lusa.
O programa da iniciativa inclui também quatro debates sobre temas como a vida sindical, as condições de trabalho, saúde e segurança nas minas ou o futuro das minas de Aljustrel.
A 12 de novembro, será apresentado o documentário “Mineiros”, de João Pedro Duarte e João Luz, enquanto, a 03 de dezembro, o Cine Oriental, na vila mineira, recebe a estreia nacional da peça de teatro “A Mina”, que junta em palco a companhia Lendias d’Encantar e atores amadores de Aljustrel.
A 04 de dezembro, Dia de Santa Bárbara, padroeira dos mineiros, vai ter lugar um espetáculo de cante alentejano, bailado, poesia e música com artistas locais e internacionais.
A exposição “Aljustrel - 100 anos, do Fundo à Superfície” tem o apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira, da Câmara de Aljustrel, das juntas de freguesia do concelho, da empresa Almina – Minas do Alentejo e do Museu do Aljube, entre outra entidades.