Depois do regresso da capital austríaca, o Festival Terras sem Sombra (TSS) apresenta este fim-de-semana, em Odemira, um programa de excelência, ao reunir sob as temáticas da música, património e salvaguarda da biodiversidade um eclético elenco de especialistas e figuras notáveis provenientes de diferentes áreas. À vertente musical, confiada ao violoncelista checo Jan Pech, junta-se a atividade patrimonial, com a evocação da viagem aérea de 1924, empresa com laivos de desígnio nacional, aquela que ligou Portugal a Macau nas asas do avião Pátria, comandado pelo major António Brito Paes e pelo capitão José Manuel Sarmento de Beires. O programa contempla ainda a presença da cientista multidisciplinar Simone Lackner, numa atividade que apela à ação do individuo face ao combate às alterações climáticas. O fim-de-semana do TSS em Odemira conta com a parceria do município local, da Embaixada da República Checa e da Direção Regional de Cultura.

Na sua componente musical, a presença do TSS em Odemira consubstancia-se, esta noite, às 21.30 horas, no concerto de excelência entregue ao violoncelista checo Jan Pech. Este artista desenvolve notável trajetória profissional como músico e, ao mesmo tempo, é um cientista de referência, dirigindo o Laboratório de Mecânica de Fluidos Computacional no Instituto de Termomecânica da Academia de Ciências da República Checa, em Praga. Como violoncelista, já apresentou diversos programas e recitais completos. Colaborou com importantes orquestras, como a Orquestra de Câmara de Praga, Filarmónica da Boémia do Sul e, na qualidade de solista acompanhado por orquestra, interpretou concertos de Saint-Saën, Haydn, Kraft, Vivaldi e o concerto triplo de Beethoven. Tem colaborado também em projetos de música contemporânea. É líder do quarteto de violoncelo PECH e apresenta a sua própria música no duo de violoncelo PECH&PRAŽÁK.

Na igreja da Misericórdia de Odemira, Jan Pech apresenta-se com o concerto intitulado “Energias Contrastantes: Obras-Chave Para Violoncelo Solo”. Momento para o músico desenvolver a sua extraordinária maestria em peças de compositores da envergadura de Viktor Kalabis, Johann Sebastian Bach e Ondřej Kukal, num périplo musical que abarca os séculos XVII a XXI.

Momento de memória a anteceder o centenário da viagem do Pátria

Na madrugada de 7 de abril de 1924, o avião Breguet 16BN2, tripulado pelo major António Brito Paes e pelo capitão José Manuel Sarmento de Beires, elevava-se da planície dos Coitos, em Vila Nova de Milfontes, para se lançar na aventura de ligar os muitos milhares de quilómetros que medeiam entre Portugal e Macau. Três dias antes, o aparelho foi batizado, sendo partido, no cubo da hélice, o bocal de uma garrafa de champanhe. Pátria foi o nome escolhido para a aeronave.  A viagem enquadrou-se no movimento de competição entre países pela conquista dos ares e da velocidade, buscando, em arriscadas viagens exploratórias, novas rotas aéreas entre pontos cada vez mais distantes e significativos.

É sobre as memórias deste feito histórico que se debruça a ação no património que o TSS apresenta em diferentes locais de Vila Nova de Milfontes. Sob o tema “Encurtando Distâncias: A Primeira Viagem Aérea Portugal-Macau no Pátria”, a atividade decorre a partir das 15h00 de 14 de outubro, com ponto de encontro no edifício da Junta de Freguesia. Oportunidade para os participantes se congregarem, depois, numa cerimónia junto ao monumento que evoca a viagem aérea, na Barbacã; seguido de uma passagem pela antiga casa da família Brito Paes Falcão e pelo HS Milfontes Beach Hotel, local onde se encontra uma pequena exposição evocativa da irmã do aviador, D. Maria Júlia Paes Falcão, outra figura histórica da região. A tarde completa-se com uma visita aos Coitos, de onde partiu o Pátria. Uma ação que conta com ilustres presenças, nas figuras do historiador António Martins Quaresma, de Leonor Brito Paes (neta de António Brito Paes), do Coronel Carlos António Mouta Raposo, diretor do Museu do Ar, e do engenheiro Jorge Lima Basto, perito em História Aeronáutica.

As alterações climáticas pensadas a uma escala humana

Neste fim-de-semana com um programa verdadeiramente de luxo, há a sublinhar a manhã de domingo, pelas 9.30 horas), com uma atividade que convida os participantes a deterem a sua atenção num tema premente, o das alterações climáticas e o posicionamento humano face a este problema. “Pare, Escute, Olhe: A Condição Humana e o Seu Impacto Sobre a Natureza”, com ponto de encontro no Parque das Águas (Boavista dos Pinheiros), tem orientação de Simone Lackner, investigadora da Nova School of Business and Economics e cientista multidisciplinar preocupada com o impacto da rápida digitalização na sociedade e no bem-estar. Lackner, perita em Biologia Molecular, especializou-se na área da Neurociência e desenvolveu grande parte da sua carreira no Centro de Investigação Para o Desconhecido da Fundação Champalimaud.

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