Foto: EDIA

“É preciso acolher, é preciso integrar, é preciso aceitar as pessoas como são e não querer impor os nossos costumes”, argumentou Carolina Silvestre Ferreira, da Fundação Vale da Rosa, em Ferreira do Alentejo, no distrito de Beja.

Na sua intervenção numa jornada de reflexão sobre os migrantes no território abrangido pelo empreendimento do Alqueva, que juntou ontem em Beja representantes do setor público, social e empresarial, esta responsável da fundação ligada ao produtor de uvas de mesa Herdade do Vale da Rosa sustentou que “é preciso dar tempo” aos imigrantes e ter “um olhar diferente”.

“Nós precisamos de gente no Alentejo. Os centros de saúde e as escolas estavam a fechar”, antes de esta mão-de-obra estrangeira afluir à região, que quer “iniciativa, empreendedorismo, gente nova”.

Por isso, há que “dizer aos imigrantes que são bem-vindos ao Baixo Alentejo” e cabe aos empresários agrícolas saberem “separar o trigo do joio”, sem fomentar os negócios paralelos e ilegais associados à imigração, disse.

“A grande responsabilidade é dos empresários. Temos que sentir-nos responsáveis por estas pessoas”, defendeu, vincando que as empresas agrícolas têm de evitar “esquemas” quando contratam mão-de-obra estrangeira: “Se há fintas dos próprios empresários, não é bom para ninguém”.

A Herdade do Vale da Rosa, que está quase a cumprir 25 anos de existência, produz e exporta uva de mesa e tem trabalhadores de diversas nacionalidades, os quais aloja sobretudo em habitações próprias em aldeias como Alfundão ou Peroguarda.

A fundação, de acordo com a empresa, é um projeto de cariz social e tem como missão atrair trabalhadores qualificados para Ferreira do Alentejo e aldeias próximas, incentivando a que se fixem na região com as suas famílias.

Na sessão de hoje, também Sofia Pereira, diretora do centro do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), alertou que deve haver consciência da parte de “todos” para os fenómenos associados aos fluxos migratórios, como “o trabalho não declarado e a imigração irregular, que não são benéficos para ninguém”.

“Nem para quem os sofre, o trabalhador, nem para as entidades que estão na economia informal, nem para as entidades que contratam a outras entidades que não estão regulares”, disse.

Num testemunho ‘online’ na sessão, no âmbito da qual foram partilhados casos de boas práticas, Paulo Fernandes, presidente da Câmara de Fundão, distrito de Castelo Branco, indicou que o seu território é considerado “uma das capitais da inclusão e da diversidade” a nível europeu e já acolhe pessoas “de mais de 72 nacionalidades”.

Para o autarca, a questão das migrações “talvez a última das grandes oportunidades” para que os territórios do interior do país possam ser “sustentáveis”.

“É um dos grandes fatores de criação de valor, de emprego, de sustentabilidade para a segurança social”, notou, defendendo a atuação a nível local e em rede para integrar os imigrantes e sugerindo parcerias com outras zonas do País, como a do Alqueva, para ter “trabalho sequencial”, por exemplo na agricultura, “o ano inteiro”, contribuindo para a fixação da mão-de-obra sazonal.

A jornada de reflexão, que contou também com boas práticas vindas de Espanha e de desafios de organizações do país vizinho para projetos transfronteiriços, foi promovida pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).

“Se calhar, o Alqueva até não é a região do país onde o problema da migração se põe com mais acuidade”, porque o tipo de agricultura local “é muito mecanizada e tem menos necessidade de trabalho manual”, mas é “uma preocupação”, disse à Lusa o presidente da EDIA, apostado em que a empresa consiga promover “respostas locais” para “um problema que é global”.

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