Galopim de Carvalho na sua página de facebook afirma que "em muitos, mas muitos aspetos, revi-me nesta obra de Jorge Serafim. Assim como o personagem que assume o papel de narrador, já passei a meta dos noventa e a outra “gota de água” que me acrescenta, há quase setenta anos, também. Também vimos partir os filhos, a caminho das suas próprias vidas. Em nós, a angústia do vazio que nos deixaram não é tão amarga, porque eles andam por perto. Também por cá, o estendal da roupa tem mais arame desocupado, há menos pratos e menos talheres na mesa.

Revejo-me apenas em muito do conteúdo, porque, na forma, estou a léguas do autor. Jorge Serafim respira e transpira poesia por todos os poros. Ele envolve a prosa e a poesia no mesmo abraço. Muitas passagens do seu discurso são poemas, em que as frases têm o ritmo e o sabor de versos."

SINOPSE do livro  "À Sombra da Angústia”:

Uma casa de família esvazia com o passar do tempo. Tudo vai sobrando. O gerúndio é o crescimento em movimento. Sobram pratos, roupas de cama, divisões e silêncio demorado. As memórias assentam praça nos lugares mais recônditos do corpo. Um casal partilhando a vida em conjunto há cerca de setenta anos, para combater a ausência que os transtorna, multiplica as recordações na janela da marquise onde passam muitas horas sentados enfrentando o vazio que os assola.

Como a Lenda da cidade de Beja, em que um touro foi envenenado para combater uma cobra monstruosa, assim se transverte a vida. O medo transforma-se em superstição, a ausência em recordação. O rumo que cada um segue é um percurso feito de sonho, sentimento, desilusão e paixão. Ver partir é contrabalançar o desenrolar da existência com as angústias do coração mãe e do coração pai.

Neste entrançar de histórias coletivas caminhadas individualmente, é no afeto que permanece a palavra família. Envelhecemos para dar sentido ao estendal despido de roupa, à porta da rua que pouco abre, às palavras que ficaram por dizer e aos abraços que ficaram por abraçar.

É no regresso que a solidão esmorece e o amanhã não tem medo de existir.

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