Intitulado ‘As Eleições Legislativas no Alentejo durante a I República (1910-1926)’, o livro resulta de uma investigação coordenada pelo historiador Manuel Baiôa, que contou com a colaboração de António José Queiroz e Pedro Figueiredo Leal.

Em comunicado, os autores explicaram que “procuraram ‘retratar’ pormenorizadamente as eleições legislativas na 1.ª República nos seis círculos [eleitorais] do Alentejo”, ou seja, Portalegre e Elvas (distrito de Portalegre), Évora e Estremoz (Évora), Beja e Aljustrel (Beja).

“O objetivo foi dar a conhecer os resultados eleitorais, os protagonistas e os vários meandros do sistema eleitoral da altura”, disse hoje à agência Lusa o historiador Manuel Baiôa.

De acordo com o coordenador da obra, o livro acaba por “trazer à luz” os resultados eleitorais da época na região, “que nalguns casos não estavam totalmente corretos nos estudos que existiam até ao momento”.

“Os outros estudos baseados essencialmente na imprensa [da época] incorreram nalguns pequenos erros, porque os resultados saíam poucos dias depois das eleições e seguidamente havia recursos, que levavam a que alguns deputados, que inicialmente pensavam ser eleitos, acabassem por não o ser”, indicou.

O autor reconheceu que esta foi uma das “surpresas” que teve ao longo da elaboração deste livro, a que se seguiu a descoberta de alguns dos “estratagemas utilizados para conseguir as vitórias eleitorais”.

“Muitas vezes cometiam-se atos ilícitos, desde compra de votos a tentativas de influenciar as pessoas a votar neste ou naquele partido através da violência ou aliciando com um emprego”, contou.

Manuel Baiôa revelou que, para chegarem a estas conclusões, os três historiadores recorreram aos arquivos oficiais da Assembleia da República e de outras entidades públicas, mas também ao espólio privado das famílias dos políticos deste período.

“Os arquivos privados foram uma fonte fundamental, pois deram-nos informações que não conseguimos encontrar nem na imprensa nem na Assembleia da República”, disse.

Também citado no comunicado enviado à Lusa, o autor alentejano referiu que a 1.ª República não pode ser considerada “uma democracia plena, pois faltava-lhe alargar o sufrágio a todos os portugueses maiores de idade” e existiam “várias irregularidades e fraudes no ato eleitoral”.

Ainda assim, “eram eleições livres e competitivas, embora o partido do governo estivesse sempre em vantagem”, apontou.

Manuel Baiôa destacou ainda que, nessa época, “não se votava em partidos políticos, mas em candidatos a deputados, que por sua vez podiam pertencer a partidos políticos ou ser independentes”.

Também a conversão dos votos em mandatos era muito diferente da atual, utilizando-se “o sistema maioritário de lista incompleta na maioria dos círculos eleitorais”.

No Alentejo, os seis círculos eleitorais elegiam três deputados e as listas apenas podiam conter dois nomes, pelo que “cada eleitor apenas podia votar em dois candidatos, mas eram eleitos os três nomes mais votados”, explicou Manuel Baiôa.

Deste período, o historiador destacou, entre os políticos eleitos no Alentejo, Manuel de Brito Camacho, natural de Aljustrel e que foi ministro do Fomento de 22 de novembro de 1910 a 03 de setembro de 1911.

“No entanto, muitos outros alentejanos tiveram um percurso político relevante, tais como Inocêncio Joaquim Camacho Rodrigues, João José da Conceição Camoesas, António Aresta Branco, Alberto Jordão Marques da Costa e António Lobo Aboim Inglês, entre outros”, concluiu Manuel Baiôa.

Lançado pelas Edições Humus, o livro ‘As Eleições Legislativas no Alentejo durante a I República (1910-1926)’ é apresentado na sexta-feira, pelas 19:00, na Biblioteca Municipal de Beja.

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