A norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre o rastreio do cancro da mama, publicada na sexta-feira, define uma população elegível entre os 45 e os 74 anos, quando até agora se destinava a mulheres entre os 50 e os 69 anos, cumprindo as recomendações da União Europeia emitidas há cerca de dois anos.

Em declarações hoje à agência Lusa, o presidente da LPCC, instituição responsável pelo rastreio de base populacional nas regiões Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo, saudou esta medida e assegurou que a Liga tem uma estrutura montada que permitirá começar a chamar as mulheres no início de 2025.

“É uma estrutura muito complicada, não só em recursos humanos como em maquinaria, mas a Liga não tem qualquer problema em adaptar-se às novas situações. Portanto, vamos fazer isso com toda a calma, muito bem programado, e a partir de janeiro ou fevereiro (…) vamos começar a chamar as mulheres da melhor maneira, com uma calendarização adequada e correspondente aos anseios da população portuguesa”, disse Vítor Veloso.

Questionado se é necessário reforçar os meios, o oncologista afirmou que sim, porque serão mais cerca de 400 mulheres incluídas no programa de rastreio, mas sublinhou que a instituição sabe o que é preciso fazer, além de ter “uma reserva económica” que permite arcar com esta responsabilidade.

O presidente destacou ainda as “mais-valias nítidas” desta medida, defendida pela Liga, uma vez que os 45, 50 anos são “uma idade em que aparecem cada vez mais cancros”, e nas idades mais avançadas há um maior risco de ter a doença.

“Dizerem que a senhora tem 70 anos ou tem mais de 70 anos e não precisa de ter uma mamografia, por amor de Deus! Pelo contrário, as pessoas com mais de 70 anos é que precisam de fazer mamografias”, frisou.

Lamentou ainda que a LPCC, responsável “pelo rastreio de referência nacional, que tem a excelência e a qualidade de nível europeu”, não tenha sido ouvida para a elaboração das normas.

“Normalmente esta comissão de peritos não está no campo, não faz ideia nenhuma das dificuldades, nem das situações e, portanto, são muito teóricos”, considerou, defendendo que, pelo menos, devia ter incorporado membros da LPCC que estão no terreno e conhecem os problemas.

Vítor Veloso avançou que a LPCC vai “estudar devidamente todas as normas que saíram”, mas, por enquanto, não vai dar um parecer.

“Neste momento, não vamos dar um parecer, porque seria leviano da nossa parte, mas vamos estudar profundamente todas essas normas e vamos ver se concordamos com elas porque, por muitos peritos que haja, são peritos teóricos. Não há nada como andar no terreno no dia-a-dia, ver as dificuldades, os problemas, e nós sabemos como resolver e resolvemos bem”, sustentou.

Em Portugal, em 2020, foram diagnosticados 7.425 novos casos de cancro da mama em mulheres, dos quais 6.346 (78%) tinham 45 ou mais anos, 4.821 (65%) entre os 45 e os 74 anos e 1.525 (20%) 75 ou mais anos.

Em 2021, registaram-se 1.798 óbitos, dos quais 828 (46%) mulheres tinham entre os 45 e os 74 anos e 1.671 (93%) mais de 45 anos.

Os programas de rastreio de base populacional estão associados a diminuição do risco de morte por cancro da mama e do risco de diagnóstico de neoplasias mamárias avançadas, em mulheres assintomáticas, com idades entre os 50 e os 69 anos, refere a DGS.

Estão também associados a redução do risco de morte em mulheres assintomáticas (entre os 45 e os 49 anos), e poderão estar também ligados a uma redução do risco de morte em mulheres assintomáticas entre os 70 e os 74.

Segundo a DGS, não existe evidência científica sobre os benefícios ou riscos da continuação destes programas para pessoas com 74 ou mais anos.

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