Foto: O ATUAL

Esta greve nacional de dois dias dos profissionais de saúde fica também marcada, hoje, por uma manifestação dos médicos e, amanhã, por uma concentração dos enfermeiros, ambas em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa.

Os presidentes do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins, e da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá, falaram à agência Lusa sobre as razões que levaram a marcar o protesto e explicaram que a paralisação acontecer nos mesmos dias foi “uma coincidência”, não descartando, contudo, a hipótese de um protesto futuro com a união de todos os sindicatos da saúde.

“Somos estruturas totalmente independentes (…) mas o facto de ambas as classes terem convocado a greve coincidentemente para a mesma altura só demonstra o descontentamento que existe nesta área e de como não tem havido competência por parte deste Ministério da Saúde, de Ana Paula Martins, em resolver a situação”, afirmou Joana Bordalo e Sá.

Por seu turno, José Carlos Martins disse que “não houve qualquer articulação” com a FNAM na marcação da greve, que o SEP anunciou a 09 de agosto, mas assinalou “a necessidade e importância de todos os sindicatos da saúde terem um dia destes que decidir realizar formas de luta”, para exigir “o reforço do investimento do SNS” e “a valorização do conjunto dos profissionais de saúde”.

Uma posição partilhada por Joana Bordalo e Sá, adiantando que é um assunto que a FNAM tem discutido “e poderá estar em cima da mesa uma união de todos os profissionais – médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos superiores de saúde, psicólogos, todos os intervenientes na saúde – para uma ação de protesto conjunta”.

“Isso é possível e vai depender, acima de tudo, de que este Ministério da Saúde, liderado por Ana Paula Martins, fizer. Quem sabe se não teremos que escalar, endurecer ainda mais a luta, e o apelo que fica é mesmo à união de toda a saúde”, realçou a médica.

Questionado se a greve dos médicos e enfermeiros pode levar a uma paralisação maior do SNS, o presidente do SEP disse não conseguir “ter essa clareza”, mas ser expectável “uma boa adesão” à greve por parte dos profissionais.

Sobre as reivindicações da classe, José Carlos Martins apontou a “justa valorização” de todas as posições remuneratórias de todas as categorias da carreira de enfermagem.

Mas, além grelha salarial, o SEP quer também que se “negoceiem mecanismos de compensação do risco de penosidade inerente à profissão, através da aposentação mais cedo”, a correção das “situações de injustiça relativamente à contagem de pontos e às progressões na carreira” e a contratação de mais profissionais.

A presidente da FNAM afirmou, por sua vez, que os médicos foram empurrados para a greve por falta de repostas da tutela.

”Não temos uma negociação séria em curso, apenas estão encetadas negociações que são de fachada. E no que toca especificamente aos médicos não há nada que neste momento possa resolver e atrair mais médicos para o SNS e, por isso, é que a FNAM também decretou esta greve”, explicou.

A líder sindical ressalvou que não se trata apenas de reivindicar salários justos e condições de trabalho dignas: “É uma questão também de defesa do SNS, que seja público, universal e de qualidade para atender toda a população, seja a nível dos cuidados de saúde primários, seja a nível hospitalar, seja a nível da saúde pública. Entendemos que isso é uma emergência”.

Para Joana Bordalo e Sá, seria “extremamente importante” que a grelha salarial fosse discutida e decidida até ao fim de setembro para poder ser inscrita no Orçamento do Estado de 2025, mas lamentou não ter havido “essa sensibilidade por parte desta ministra da Saúde”.

Defendeu a necessidade de repor o poder de compra aos médicos, lembrando que continuam “a ser dos médicos mais mal pagos a nível europeu” e, por isso, continuam “a sair todos os dias para o setor privado e para o estrangeiro e isso reflete-se no caos em que está o SNS”.

Para a FNAM, é também prioritário o regresso às 35 horas de trabalho semanais e das 12 horas em serviço de urgência, a reintegração do internato na carreira médica e a criação de um regime de dedicação exclusiva, opcional para todos os médicos e devidamente majorada.

“Não nos cansamos de dizer que exigimos uma ministra que perceba de saúde e esperamos que no dia 24, em frente ao Ministério da Saúde, tenhamos os médicos, mas também outros profissionais de saúde, os utentes, a população em geral, para defendermos, acima de tudo o SNS”, rematou.

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