Moura assinala 100 anos do nascimento de Urbano Tavares Rodrigues
O livro de fotografias “Santiago de Compostela”, de Sérgio Jacques e Carlos Quiroga tem apresentação marcada para esta noite, às 21.00 horas, na Biblioteca Municipal de Moura “Urbano Tavares Rodrigues”. A apresentação, a cargo do autor Sérgio Jacques, surge no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Urbano Tavares Rodrigues, se fosse vivo faria hoje 100 anos.
“Há 75 anos, em 1948, Urbano Tavares Rodrigues
(1923-2013) escreveu sobre “As Festas do Apóstolo”. Tinha 25 anos de idade e
peregrinou por Santiago de Compostela, ao serviço do Diário de Notícias (DN).
As reportagens que então assinou para o DN foram depois publicadas em livro,
que Urbano colocou na estante da memória. Agora, o fotógrafo Sérgio Jacques e o
escritor Carlos Quiroga resgatam-no do seu longo cativeiro com a publicação de
“Santiago de Compostela”.
Segundo o município de Moura “reler o que então escreveu é uma boa forma de celebrar os 100 anos do seu nascimento-em 6 de dezembro de 1923-de um dos nomes maiores da nossa Literatura.”
Nascido em Lisboa em 1923, Urbano Augusto Tavares Rodrigues passou a infância no Alentejo, perto de Moura, o que em muito influenciou a sua vida e obra. Ficcionista, investigador e crítico literário, licenciou-se em Letras com uma tese intitulada Manuel Teixeira Gomes: Introdução à sua obra (1950), tendo regressado por várias vezes aos estudos sobre aquele autor, nomeadamente na sua dissertação de doutoramento, Manuel Teixeira Gomes: o discurso do desejo.
Impedido, por motivos políticos, de exercer a docência universitária em Portugal, foi leitor de Português em diversas universidades estrangeiras (Montpellier, Aix e Paris, entre 1949 e 1955). Depois da revolução de 25 de Abril de 1974 retomou a atividade docente em Portugal, jubilando-se em 1993 como Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi membro efetivo da Academia de Ciências de Lisboa e membro correspondente da Academia Brasileira de Letras.
Sendo um dos mais prolíficos e prestigiados escritores da segunda metade do século XX em Portugal, a obra de Urbano, que está traduzida em diversas línguas, atinge várias dezenas de títulos, entre conto, romance, crónica e ensaio. Tem, além disso, colaboração dispersa por publicações variadas, entre as quais o Bulletin des Études Portugaises, Colóquio-Letras, JL-Jornal de Letras, Artes e Ideias, Vértice, Nouvel Observateur, etc., tendo sido diretor da revista Europa e redator principal do Jornal de Letras e Artes e jornalista de O Século e de O Diário de Lisboa, periódicos onde fez crítica teatral. Enquanto repórter, percorreu grande parte do mundo, tendo reunido os seus relatos de viagem nos volumes Santiago de Compostela (1949), Jornadas no Oriente (1956) e Jornadas na Europa (1958) entre outros livros de viagens que mais tarde publicou.
A ficção de Urbano Tavares Rodrigues tem como característica principal a tomada de consciência do indivíduo face a si mesmo e aos outros, processo que se inicia a partir da perspetiva física das personagens (a dimensão erótica e a constatação da morte marcam a sua escrita) até ao reconhecimento de uma identidade social e política. O autor considera que, numa primeira fase, a sua obra foi influenciada pelo existencialismo francês da década de 50; mais tarde, na sequência da sua detenção no forte de Caxias, durante o regime ditatorial, passou a revelar-se como uma literatura de resistência, a que se seguiu um novo período, mais otimista, no pós-25 de Abril. Nos seus últimos livros regressou à literatura de combate e de consciencialização, formulada em termos da interrogação angustiada sobre a crise de valores do ambiente finissecular, e presente nos romances O Supremo Interdito (2000) e Nunca diremos quem sois (2002) e no volume de crónicas God Bless America! (2003).
Urbano participou, como ator (fazendo o papel de si próprio) no filme Visita - Ou Memórias e Confissões – realizado por Manoel de Oliveira em 1982 e até hoje não comercializado. Manoel de Oliveira, em entrevista a João Matos Cruz, disse que «Visita surge de uma circunstância, que provocou o acaso, o qual resultou num filme. Eu entendi que devia guardar aquela memória, e passei-a ao cinema... » – a circunstância de que o filme resultou foi o encontro do realizador e do escritor em 1963, na prisão.
Urbano Tavares Rodrigues comemorou em 2003 cinquenta anos de vida literária. Em 2002 foi-lhe atribuído o Grande Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e em 2000 o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores. Morreu em Lisboa em 2013, tendo continuado a escrever e a publicar até ao fim dos seus dias.
Biografia retirada do site da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas