O cancioneiro introspetivo de LaBaq no Festival das Marias
O segundo dia do festival dedicado à arte no feminino contou com o regresso da artista musical paulista à cidade de Beja
Foto: Daryan Dornelles
No sábado passado, o segundo espetáculo da edição de 2021 do Festival das Marias teve lugar no salão da Sociedade Filarmónica Capricho Bejense, levado a cabo pela cantautora brasileira LaBaq, cujo trabalho se encontra assente numa pop indie veiculada por instrumentação acústica e eletrónica. No entanto – contrariamente à sua anterior passagem pela cidade no festival Beja na Rua em 2017, acompanhada por uma banda de apoio -, LaBaq faz-se apresentar neste concerto apenas munida pela sua própria voz e guitarra clássica.
Este aspeto mostrou ser tudo menos uma fraqueza - pelo contrário, conferiu um clima intimista a um repertório bastante condizente a tal: Os dois primeiros temas a dar o ponto de partida a esta atuação, “Drama Gris” e “Abrandô”, apresentam respetivamente observações sobre a apatia do quotidiano coletivo e sobre o término de uma relação amorosa, comunicadas de uma forma crua e emotiva. Ao mesmo tempo, torna-se notável a destreza de LaBaq na exploração de diferentes dinâmicas, timbres e ritmos na guitarra de modo a complementar esta apresentação mais minimalista do seu repertório, sem perder por um minuto a função de sustentar os sentimentos traduzidos nas devidas canções.
Em “Bocas” e “Não Precisa de Nome”, a música brasileira presenteia-nos com odes à paixão, e em “Clara” e “Quiçá”, relembra-nos da importância de valorizar a nossa existência – sendo o último tema inclusivamente dedicado a Danijoy Pontes, cujas manifestações a exigir justiça pela sua pessoa ocorreram no mesmo dia, uma das quais tendo lugar em Beja.
“Vida Que Segue” termina o alinhamento com um retorno à temática da reaprendizagem pós-amorosa, mas a receção do público presente é suficientemente entusiástica para a artista regressar para um encore com a sua rendição do tema “Deusa do Amor”, com a adesão dos espetadores para juntar a sua voz à da artista durante os momentos do refrão. LaBaq sai de cena com o mesmo sorriso sincero com que entrou em palco, o que não poderia ter acontecido se a intimidade convocada nas suas canções não tivesse sido recebida carinhosamente por quem se encontrava presente.