PCP exige conclusão das obras da estrada IP8, “via estruturante” para o Baixo Alentejo
O PCP exigiu que o Governo conclua a estrada IP8, uma “via estruturante” para o Baixo Alentejo, e lamentou que tenham sido gastos “milhões de euros” numa obra cujas vedações hoje só servem para abrigar animais.
No âmbito das jornadas parlamentares do PCP, os deputados Paula Santos e João Dias deslocaram-se hoje até Figueira dos Cavaleiros para verem as obras inacabadas da estrada IP8, que deveria ligar Vila Verde de Ficalho, junto da fronteira de Espanha, até Sines, passando por Beja.
Anunciada em 2007 pelo então primeiro-ministro do PS José Sócrates, a obra foi interrompida em 2012 pelo Governo liderado pelo ex-primeiro-ministro do PSD Pedro Passos Coelho e encontra-se parada desde então.
Tendo como pano de fundo um viaduto inacabado e um terreno escavado para a construção da estrada, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, considerou que o estado da IP8 mostra o “desinvestimento” que tem sido feito no distrito.
Qualificando a IP8 como uma “via estruturante, que liga o litoral, passando por todo o Alentejo, até à fronteira com Espanha”, Paula Santos considerou ser “um desperdício” que, depois de terem sido gastos “milhões de euros” na sua construção, a obra esteja agora parada.
“É uma via que, do ponto de vista da mobilidade das populações, é importante, mas também é importante para os transportes de mercadorias e do ponto de vista quer da coesão territorial, quer para o desenvolvimento da própria atividade do distrito”, salientou.
O deputado João Dias, eleito pelo círculo de Beja, também lamentou o estado atual da obra, recordando que, para que fosse iniciada, foram gastos "milhões de euros em expropriações".
João Dias recordou que o traçado que liga Vila Verde de Ficalho até Sines “está contemplado no plano rodoviário nacional” e o objetivo era que tivesse “um perfil de autoestrada, com duas vias de trânsito em cada sentido, e sem portagens”, lamentando que o atual Governo não esteja a prever retomar a obra com esse perfil.
Segundo o deputado do PCP, o plano do executivo é agora construir duas variantes - uma em Figueira de Cavaleiros e outra em Beringel - e utilizar as atuais estradas nacionais para “emprestar o seu traçado” à IP8.
“Nós precisamos de ter duas vias [as estradas nacionais e a IP8]. (...) Quando nós falamos das dificuldades que temos com o despovoamento, pois são estes elementos que são estruturantes e decisivos, para que se permita que a população, tendo estes serviços, nomeadamente estas acessibilidades e esta mobilidade, permita também ter aqui condições de se fixar aqui”, sublinhou.
Intervindo depois dos deputados, Francisco Fagulha, deputado municipal em Ferreira do Alentejo, considerou que o estado da IP8 “mostra a falta de respeito pelos habitantes do Baixo Alentejo”.
“Nós estamos perante um quadro que mostra, infelizmente, ao que é que o Alentejo foi devotado: isto é uma pobreza franciscana, e uma vergonha, como é que nós pretendemos o desenvolvimento de uma região quando temos quadros destes?”, questionou.
Por sua vez, José João Guerreiro, que reside na zona, considerou que a conclusão da IP8 traria "grandes benefícios" às populações locais, no tempo que pouparia para o transporte de mercadorias.
“As deslocações hoje são um fator importante em termos de tempo, porque os tempos de hoje já não se compadecem com o antigamente, em que andávamos com carroças puxadas por animais. Hoje é o automóvel, são os camiões que fazem o transporte das mercadorias", salientou.
Além da importância que teria para o transporte de mercadorias, Paula Santos acrescentou também que o IP8 assume “particular importância” no reforço das acessibilidades ao aeroporto de Beja, como forma de “aproveitar as suas potencialidades”.
Até lá, os habitantes locais já arranjaram um propósito para as obras inacabadas: utilizar as vedações para guardar o gado.
“As pessoas aproveitaram. Como foi feita uma vedação, aqui há 10 anos, então põem aí o gado, pelo menos têm a certeza que o gado está dentro dessas vedações e não têm problemas de acidentes”, explicou José João Guerreiro, entre risos.