População quer discutir na AR troço ferroviário Sines-Grândola Norte
Uma associação de habitantes de Grândola e Santiago do Cacém quer levar ao parlamento a discussão de uma alternativa à construção do troço ferroviário de mercadorias Sines-Grândola Norte, revelou à agência Lusa uma representante.
“Não estamos contra o Plano Ferroviário Nacional [PFN] nem contra o desenvolvimento de Sines, até porque muitos dos nossos associados dependem e estão diretamente ligados [ao] Porto de Sines. Não estamos é a favor deste traçado”, frisa Sónia Pereira.
Segundo a porta-voz da associação, o traçado previsto “por uma linha vermelha no mapa” na proposta do PFN irá causar “muitos impactos” na população dos concelhos de Grândola e Santiago do Cacém, “que será atingida de um modo irrevogável”.
A Associação Protetora do Montado Contra a Ferrovia Relvas Verdes Grândola Norte (REVER) tem em curso uma petição ‘online’ e pretende transpô-la “para o papel”, para a levar “porta a porta” também à população mais idosa e, depois, conseguir que seja discutida no parlamento.
Na petição, a REVER refere que os habitantes daqueles concelhos entendem “a necessidade do desenvolvimento de Sines e do Porto de Sines”, mas “esse desenvolvimento não pode ser feito lesando os concelhos limítrofes e as suas populações”.
Além de o traçado proposto não ser compatível com o “paradigma do turismo que tem estado a instalar-se de forma muito coesa e sustentada nos dois concelhos”, terá impacto ao nível do despovoamento.
Os habitantes assumem ainda que as expropriações serão feitas por “valores totalmente irrealistas e com total desprezo pela vida das pessoas e da população”, além de ser “um crime ambiental que destrói de forma irrecuperável milhares de sobreiros e azinheiras” ao longo da Serra de Grândola.
“Passa nas proximidades das Lagoas de Santo André, da Sancha e de Melides e sabemos que esses ecossistemas vão ser afetados. Vai causar um impacto muito grande na paisagem, pois ‘esventra’ completamente a Serra de Grândola”, afiança a representante da REVER.
Além de “descaracterizar a paisagem”, outro problema tem a ver com “o ruído” provocado por uma linha que tem prevista a passagem de “comboios de 1.500 metros”.
“É um quilómetro e meio de comboio a passar. Tanto o ruído como as vibrações podem-se propagar num raio de até cinco quilómetros. E irá desordenar o território e corromper este conceito previsto para o desenvolvimento socioeconómico” da região, enfatiza Sónia Pereira.
Segundo a representante, o concelho de Grândola poderia, nos “próximos anos” ser aquele “com maior contributo para o PIB ‘per capita’ na área do turismo”, mas isso não irá acontecer, “de certeza absoluta, com esta linha férrea de mercadorias.
A REVER diz-se disponível para “ouvir outras alternativas”, até porque tem conhecimento de que, quando “este traçado foi cancelado em 2010”, foram dadas à REFER (agora Infraestruturas de Portugal) instruções “para iniciar de imediato e com muita urgência o estudo das alternativas que permitissem assegurar essa ligação”.
No entanto, a então REFER “nunca deu essa informação” à associação REVER, criada em 2009 e sem fins lucrativos, que tem, ainda assim, conhecimento de uma alternativa “mais pequena”, que permitiria assegurar a ligação de Relvas Verdes até ao corredor de Ermidas-Sado.
Na segunda-feira, a Câmara de Grândola criticou também a possível construção deste troço ferroviário Sines-Grândola Norte, proposto no novo PFN, alegando que não será viável em termos territoriais e ambientais.
Num comunicado divulgado no início deste mês, também a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral (CIMAL) já tinha criticado diversos aspetos do PFN, nomeadamente a nova "ligação entre Sines e Grândola pelo litoral", acerca da qual reivindicou mais esclarecimentos.