Em comunicado, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) divulgou que a inscrição deste tipo de produção vinícola no INPCI consta de despacho assinado, a 28 de novembro, pela subdiretora-geral do Património Cultural, Rita Jerónimo,

O despacho, “em breve, será publicado em Diário da República”, indicou a direção-geral.

O vinho de talha, próprio do Alentejo (ao nível nacional), é produzido graças a “um processo de vinificação natural que remonta à época romana”.

“As uvas, depois de esmagadas com recurso a um moinho ou uma mesa de ripanço, transformam-se no mosto que se deposita em talhas de barro para fermentação e cozedura por um período aproximado de 40 dias, até o vinho ficar pronto a ser bebido”, explicou a DGPC.

Trata-se de um processo que é “sobretudo levado a cabo pelos homens e que tem resistido com base na transmissão oral, num saber-fazer experimentado, na partilha do conhecimento de geração em geração, em respeito por tradições antigas”.

“Esta transmissão e saber-fazer têm permitido a preservação das adegas de construção tradicional, das talhas de barro, dos recipientes e utensílios, assim como dos processos culturais que, atualmente, se constituem como património cultural e identitário daquelas comunidades”, notou a direção-geral.

Esta prática de vinificação mantém-se ativa “nos concelhos de Aljustrel, Beja, Campo Maior, Cuba, Elvas, Estremoz, Marvão, Mora, Moura, Serpa e Vidigueira” e conta com “134 produtores identificados”, precisou a DGPC, aludindo a dados de 2018-2019.

Com a inscrição no INPCI da Produção de Vinho de Talha, a DGPC disse pretender reconhecer a importância deste processo “enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade”.

A produção de vinho de talha ou da talha, também conhecida pelas denominações de ‘vinho do pote’ ou ‘vinho do tareco’, obedece a um ciclo próprio no calendário, “com início em agosto com as vindimas e o encerramento em novembro, com a abertura das talhas.

Aí, “chega a altura de o produtor dar a conhecer os vinhos” e têm início “as provas e o convívio à volta dos vinhos novos”, pode ler-se na ficha de inventário da manifestação cultural, de acordo com a direção-geral.

“Na comunidade, os grupos organizam-se e percorrem as adegas cantando, petiscando, provando o vinho, comentando qual é o melhor. É o convívio, a partilha e alguma rivalidade entre produtores sobre qual terá o melhor vinho. Todos os anos este ciclo se repete, as comunidades voltam às técnicas tradicionais e aos hábitos de convívio tão antigos como o próprio ‘saber-fazer’”, pode ler-se.

A proposta de inscrição desta prática cultural no INPCI foi feita pela Câmara de Vidigueira, com apoio técnico da Direção Regional de Cultura do Alentejo e no âmbito de um protocolo assinado com um conjunto alargado de entidades e municípios da região.

O Município de Vidigueira tem investigado e aprofundado o conhecimento sobre esta produção, para a sua inventariação na plataforma MatrizPCI (http://www.matrizpci.dgpc.pt/), onde o público pode agora consultar toda a documentação.

O objetivo final dos promotores passa pela candidatura da produção artesanal de vinho de talha a Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).


Comente esta notícia

Este site usa cookies para melhorar a sua experiência. Ao continuar a navegar estará a aceitar a sua utilização.