Projeto de comercialização de carne de vaca garvonesa representa novo ciclo para a raça
O projeto de comercialização de carne de vaca garvonesa pode representar “um novo ciclo” para esta espécie autóctone, originária do concelho alentejano de Ourique, disse o presidente da associação responsável pela gestão da raça.
A parceria, que arrancou em junho de forma experimental, junta a Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB), de Castro Verde e que gere o livro genealógico da raça, e a empresa PEC Nordeste, através da plataforma digital ‘Carnes da Montanha’, tendo o apoio da Câmara de Ourique.
“O nosso objetivo é que este seja o início de um novo ciclo para a raça”, afiançou à agência Lusa o presidente da AACB, António Aires.
Segundo este responsável, a raça garvonesa, associada à tradicional feira de Garvão, no concelho de Ourique, “esteve ameaçada e praticamente em extinção”.
De momento, a raça conta 22 produtores e um efetivo adulto de 700 animais, podendo agora ganhar condições para crescer.
É nessa lógica que surge a comercialização da carne desta raça, projeto que possibilita a aquisição de carne de vaca garvonesa no ‘site’ da ‘Carnes da Montanha’.
“Esta é uma raça que transforma ‘pedras em carne’, o que prova a sua rusticidade e adaptabilidade ao território onde está inserida”, destacou à Lusa Idalino Leão, presidente da administração da PEC Nordeste, empresa ligada à AGROS – União de Cooperativas de Produtores de Leite.
A plataforma ‘Carnes da Montanha’ surgiu há cerca de três anos, fazendo entregas em todo o país e tendo como objetivo “defender e promover a nossa ruralidade, as nossas tradições e aquilo que temos de melhor”, segundo o gestor.
“Procuramos identificar produtos diferenciadores para um público que valoriza essa diferenciação”, acrescenta Idalino Leão, explicando que a plataforma comercializa carne de “oito raças autóctones”.
“Este é um projeto que tem acrescentado valor a algumas raças e é um caminho que estamos a trilhar juntos com as associações, estando aberto a outras raças que queiram entrar”, acrescentou.
Para o presidente da AACB, esta parceria com a PEC Nordeste facilita todo o processo de produção, além dos produtores de bovinos da raça garvonesa também ganharem “uma garantia de escoamento dos animais”, que só entravam no mercado da carne pelo “circuito normal de engorda”.
Nesse âmbito, continua António Aires, nos planos da associação está a criação de uma Denominação de Origem Protegida (DOP), “com um caderno de encargos para os produtores”.
A Câmara de Ourique é parceira deste projeto e para o presidente do município alentejano, Marcelo Guerreiro, este é “um passo em frente para a raça e para os produtores”.
“Passar a ser comercializada enquanto raça autóctone valoriza-a e abre novos horizontes, que esperamos que se possam repercutir no aumento do efetivo e na sua afirmação”, acrescentou.
A raça bovina garvonesa, outrora conhecida como chamusca, predominava nas “zonas de transição” entre as planícies do sul e a serra algarvia, tendo o seu nome associado à feira de Garvão, freguesia do concelho de Ourique.
A raça chegou a estar em risco de extinção na viragem do século, mas um projeto de preservação e reabilitação promovido pela AACB, em parceria com o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, permitiu a sua recuperação.
Atualmente, a raça, inserida no programa ‘Manutenção de Raças Autóctones’, conta um efetivo adulto de 700 animais, distribuídos pelos municípios de Ourique, Castro Verde, Almodôvar, Barrancos, Serpa e Odemira (distrito de Beja), Viana do Alentejo (Évora) e Santiago do Cacém (Setúbal).