Beja acolhe “Desassossego” para combater o estigma da doença mental
“Desassossego” é a designação do espetáculo do coletivo artístico Coro de Atores que estreia, esta sexta-feira, em Beja, e que pretende ser um “instrumento de literacia em saúde” e combater o “estigma” das pessoas com doença mental.
“Quisemos, desde o início”, que este “fosse um projeto sobre pessoas com doença mental e do desassossego que isso lhes traz”, explicou hoje à agência Lusa Miguel Magalhães, responsável pela dramaturgia da peça.
O espetáculo vai estar em palco no Teatro Municipal Pax Julia, em Beja, nesta sexta-feira e sábado, sempre às 21:00 horas.
Trata-se de uma produção do Coro de Atores e da Caravela Sonora, com dramaturgia de Miguel Magalhães, encenação de Rita Calatré, música original de Paulo Pires e coreografia de Daniela Ferreira.
A obra foi desenvolvida no âmbito do Programa de Apoio em Parceria “Arte e Saúde Mental”, da Direção-Geral das Artes, com a parceria da Santa Casa da Misericórdia e da Câmara de Beja, assim como da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Mental.
Segundo Miguel Magalhães, “Desassossego” conta “a história ficcionada de um jovem bejense, António, que tem sonhos de estudar e um dia vir a ser escritor” e “que, de repente, se depara com um diagnóstico de doença mental”.
“Como é que ele lida com o diagnóstico? Como é que ele lida com a doença? É essa a história que queremos passar, uma mensagem de esperança”, revelou.
De acordo com o dramaturgo, a peça pretende ser “a história das pessoas que todos os dias lidam com a doença mental”, fazendo da arte “um instrumento de literacia em saúde” e de “combate ao estigma e à desigualdade”.
Nesse sentido, “o espetáculo é constantemente cruzado por testemunhos reais”, recolhidos nos últimos meses e que serão projetados “em vídeo na própria cenografia”.
O desenvolvimento do projeto levou o Coro de Atores a promover em Beja um ateliê de cenografia e de figurinos, sendo que “toda a cenografia e todos os figurinos” do espetáculo acabam por ser “da inteira responsabilidade de pessoas com doença mental”.
A iniciativa incluiu, igualmente, a dinamização de uma oficina de teatro, na qual os participantes tiveram a “oportunidade de experienciar, através do exercício teatral, como lidar com situações do dia-a-dia que, para as pessoas com doença mental, são um problema”, contou Miguel Magalhães.
“Estas situações foram, em improviso e em exercício teatral, experienciadas por pessoas com doença mental, por profissionais e por nós, artistas, num conjunto de cinco sessões”, acrescentou.
O autor da dramaturgia disse ainda que a escolha do Baixo Alentejo para este projeto se deveu ao facto de a região ser “a zona do país com a taxa mais alta de suicídio”.
Além disso, “enquanto companhia, sempre nos pautamos por trabalhar fora dos grandes centros urbanos e artísticos, porque acreditamos que a arte deve ser para toda a gente e uma das nossas missões é a democratização da fruição cultural”, reforçou.
Depois de Beja, “Desassossego” vai ser apresentado em Vila Nova de Gaia (Porto), a 26 de novembro.
“Estamos a tentar levar [o espetáculo] a mais sítios e com mais datas, porque um dos nossos objetivos é mesmo levá-lo a todo o país. Acreditamos que a mensagem só consegue ser efetiva quando chega a mais pessoas”, concluiu..