Projeto transfronteiriço luso-espanhol quer fomentar inovação no setor agrícola
A inovação no setor agrícola transfronteiriço luso-espanhol é o principal objetivo do projeto RAIA, que promove na quarta-feira, em Castro Marim, a primeira de seis reuniões de apresentação, adiantou a coordenação portuguesa. O Baixo Alentejo tem vários parceiros no projeto.
Fernanda Silva, da Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), que coordena a atividade, disse à agência Lusa que o projeto teve início em julho passado e realizou ao longo destes meses um trabalho de preparação das reuniões, que contarão sempre com uma componente de visita a um exemplo de inovação agrícola.
“Estes encontros servem como uma primeira grande forma de chamar as pessoas [a participar] e todos têm uma vertente de visita a uma experiência inovadora agrícola. Esta primeira tem a ver, em Castro Marim, com uma empresa biológica que trabalha muito as questões da regeneração do solo e do aproveitamento da água”, disse Fernanda Silva.
Aquela responsável explicou que vão também ser feitas reuniões noutros pontos próximos da fronteira, como Cartaya (Espanha), na segunda-feira, onde os participantes vão ter contacto com uma empresa de “grande inovação em termos da utilização dos resíduos dos citrinos”, ou em Santa Bárbara de Casas (Espanha), a 06 de março, onde está uma empresa com “15.000 ovelhas, que faz queijo e tem grande inovação em termos de sustentabilidade”.
As questões “do pastoreio e o combate à desertificação do montado” serão analisadas em Mértola (Beja), a 08 de março, e as reuniões terminam no dia 12, em Serpa (Beja), onde existem “uma rede de produtores biológicos” próxima de outra “que também está a funcionar em Espanha, mas de costas voltadas”, o que “não faz sentido” porque “devem trabalhar juntas”, considerou.
Fernanda Silva adiantou que os destinatários destas reuniões são agricultores, empresas, cooperativas, associações, mas também as Câmaras municipais e Grupos de Ação Local (GAL) que trabalham em desenvolvimento rural, permitindo “valorizar” as redes que estes grupos já gerem.
Angel Blázquez Carrasco, da agência de gestão agrária da Consejeria de Agricultura da Junta da Andaluzia, é coordenador-geral do RAIA e disse à Lusa que o projeto é financiado em cerca de um milhão de euros pelo Programa de Cooperação Transfronteiriça Portugal-Espanha (POCTEP), estando a sua conclusão prevista para dezembro de 2025.
“A ideia do projeto é criar uma rede, próximo da fronteira entre Espanha e Portugal, no entorno fronteiriço, que venha a impulsionar a inovação no setor agrário: agricultura, pecuária e florestal”, definiu.
Angel Blázquez referiu que esse trabalho vai ser feito quer através destas “primeiras reuniões com todo o setor agrário”, quer através de outros encontros de “maior dimensão”, em março, abril e maio, nos quais se irão “detetar as necessidades e prioridades” para promover a inovação na zona que abrange a fronteira entre o Algarve, o Alentejo e a região espanhola da Andaluzia.
“A partir dessas necessidades e prioridades, criaremos um plano de ação e procuraremos ajustá-lo às distintas fontes de financiamento disponíveis, sobretudo a nível europeu”, acrescentou, frisando que o projeto coloca também o foco na área da “formação” e na “capacitação de todo o setor” para aproveitar as oportunidades e melhorar a inovação na área transfronteiriça.
São parceiros do projeto a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, a Associação de Desenvolvimento In-Loco, a ADPM, a Câmara de Mértola e a CIMBAL, do lado português, e a Agência para a Gestão Agrária da Andaluzia, a Diputación de Huelva ou o Ayuntamiento de Puebla de Gusman, do lado espanhol.
“No final destes encontros iremos fazer um relatório com conclusões para termos análise mais detalhada de quais são os principais problemas em comum, as diferenças, mas também as soluções”, disse ainda Fernanda Silva.