Sonatas sob as estrelas: recital de piano de Laurence Aliganga no Lagar do Marmelo
Música, arquitetura, tradições populares, natureza e fotografia são as estrelas do Festival Terras sem Sombra na sua passagem pelo concelho de Ferreira do Alentejo, a 4 e 5 de Setembro, em parceria com o Município local. A programação para o fim-de-semana contempla elementos patrimoniais emblemáticos deste território do Baixo Alentejo, numa apelativa conjugação de modernidade e tradição.
Sábado à noite (4 de Setembro, 21h30), no Lagar do Marmelo, em Figueira dos Cavaleiros, brilha a grande música num recital, ao ar livre, sob a pala daquele edifício, pelo pianista Laurence Aliganga, uma estrela em ascensão no firmamento artístico espanhol. Filho de pais filipinos e nascido em Madrid, Aliganga formou-se no Conservatório de Música de Arturo Soria e na Universidad Alfonso X el Sabio, sob a orientação de Alberto Urroz, e é já uma referência da pianística europeia.
Intitulado “Um Pouco de Música Nocturna: Sonatas, Quase-Sonatas e Algo Mais”, o programa combina sonatas de compositores dos séculos XVIII e XIX, como Scarlatti (Sonata em Ré menor, K.9), Beethoven (Sonata n.º 21, Op. 53, em Dó Maior) ou Liszt (Après une lecture du Dante: Fantasia quasi sonata), e peças de mestres contemporâneos como Pärt, Cornejo, Espino ou Sondheim. O espetáculo é de acesso gratuito, sujeito à lotação do recinto e a marcação prévia (tel. 284738703 ou e-mail [email protected]).
Em noite de estrelas, merece também referência o cenário singular escolhido para o concerto de Laurence Aliganga. Da autoria do arquiteto Ricardo Bak Gordon, o ultramoderno lagar do Grupo Sovena reflecte uma imagem da contemporaneidade que caracteriza hoje a olivicultura na região. Obra de perfil visionário, mas impecavelmente adequada às funções, operacionais e representativas, que lhe foram cometidas, distingue-se, no olival envolvente, pela dimensão e alvura, lembrando uma espécie de fantasmagoria, qual ovni pousado ao de leve na peneplanície. Quando a noite cai, transforma-se numa espécie de “luminária”, um notável ponto de referência do território ao redor.
Património cultural e salvaguarda da biodiversidade: a arte da cestaria e a Lagoa dos Patos
A anteceder o serão musical em Figueira dos Cavaleiros, o Terras sem Sombra marca presença na freguesia de Odivelas (4 de Setembro, 15h), para conhecer a cestaria tradicional sob a orientação de Maria João Pina (museóloga) e Hermínia Gonçalves e José Nunes (cesteiros).
Manufatura deveras exigente, transmitida de geração em geração, a cestaria constitui um importante elemento identitário da comunidade local. O aproveitamento da matéria-prima, abundante nas margens da ribeira de Odivelas, deu origem à produção artesanal de cestos de esteira no território. Na segunda metade do século XX, esta era a maior atividade empregadora da terra. Com o andar do tempo, as cestas foram caindo em desuso, mas algumas pessoas ligadas ao seu fabrico mantiveram a tradição.
Transformar o junco e o vime em cestas implica conhecer quando e como se recolhem e preparam as fibras vegetais e dominar a técnica do entrelaçado. A decoração das peças é variada, mas comummente, usam-se desenhos-matriz, em tons de verde, vermelho, roxo ou amarelo, a que se mistura o cru. Alvo de inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, a arte cesteira de Odivelas começa a despertar novo interesse.
Na manhã de domingo (5 de Setembro, 9h30), o Festival propõe uma visita pouco usual à Lagoa dos Patos, com o património natural do concelho de Ferreira do Alentejo na mira. Localizada a sudoeste da albufeira de Odivelas, na freguesia de Alfundão e Peroguarda, esta albufeira é uma importante zona para a avifauna, onde se avistam – para além de grandes concentrações de patos – garças, poupas, narcejas, entre outras espécies.
Acompanhados pelo fotógrafo de natureza Dinis Cortes, grande conhecedor deste santuário, e por residentes na freguesia, os participantes são convidados a refletir sobre o mistério das migrações e das suas especificidades atuais em período de importantes alterações climáticas e, quem sabe, a partir de um olhar donde brote a admiração se fortaleça o bem-querer pela fauna e flora.
Um festival que revela o melhor do Alentejo
O Festival Terras sem Sombra é uma temporada cultural que, em itinerância por diversos concelhos do Alentejo, propõe um programa que abarca a música erudita, o património e a salvaguarda da biodiversidade. As atividades acontecem aos fins-de-semana e são de entrada livre, sujeitas às regras sanitárias em vigor decorrentes da atual situação pandémica.
O próximo destino Terras sem Sombra é Viana do Alentejo (11 e 12 de Setembro), onde terá lugar um concerto pelo destacado ensemble checo Smetana Trio, que interpretará três trios para piano dos compositores Vítězslav Novák, Bohuslav Martinů e Bedřich Smetana. A 17.ª edição do Festival culmina em Odemira, a 18 e 19 de Setembro, com o muito aguardado concerto dos belgas do Terra Nova Collective, sob a direção de Vlad Weverbergh.
O Festival Terras sem Sombra é uma estrutura financiada pela Direção-Geral das Artes.