Vidigueira: Teatro do Vestido cria espetáculo sobre memórias da revolução
A companhia Teatro do Vestido apresenta, hoje e amanhã, em Vidigueira, o espetáculo “A Revolução também passou aqui”, baseado nas memórias da população deste concelho sobre o 25 de Abril de 1974.
A peça de teatro documental é uma coprodução da companhia com o Município de Vidigueira, com texto e encenação de Joana Craveiro, e a sua apresentação integra a programação comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril neste concelho alentejano do distrito de Beja.
“Quem for assistir pode esperar ‘embarcar’ numa aventura”, antecipou à agência Lusa a autora do espetáculo, notando que este pretende ser uma viagem “mágica” em que se valoriza o papel das pessoas “como sujeitos da história”.
De acordo com Joana Craveiro, a criação do espetáculo arrancou em 2022, altura em que a equipa do Teatro do Vestido começou a recolher testemunhos sobre a forma como foram vividos os dias da Revolução dos Cravos em Vidigueira.
“Fizemos uma recolha, escutámos com profundidade histórias de vida de muitas pessoas, não só sobre o 25 de Abril, mas também sobre o antes [da revolução]”, explicou Joana Craveiro, referindo que o objetivo foi saber “como é que esse dia foi vivido e percecionado”.
A partir daí, foi criado “um mosaico de histórias que se entrecruzam umas com as outras”.
Ao mesmo tempo, este “é um espetáculo que reflete sobre a própria natureza da memória, sobre como a memória se vai transformando e é uma coisa que está viva”, notou Joana Craveiro.
Na opinião da autora, “a memória é muito volátil e muito suscetível a uma série de transformações que advém do contexto em que se vive”, pelo que o atual momento político “faz com que a memória do 25 de Abril e daquilo que se segue seja contada de uma determinada maneira”.
“No espetáculo também refletimos sobre isso, ou seja, é um espetáculo também sobre o hoje, não só sobre o que aconteceu há 50 anos”, reforçou.
Com muito trabalho desenvolvido sobre esta temática, Joana Craveiro reconheceu que não ficou surpreendida com o conteúdo dos testemunhos recolhidos “no sentido histórico”.
“Mas posso dizer que fiquei surpreendida com uma atitude perante o 25 de Abril que não é imediatamente uma atitude positiva”, assinalou.
A peça “A Revolução também passou aqui” inicia-se, pelas 19:00 de segunda e terça-feira, na Praça Vasco da Gama, em Vidigueira, seguindo pelas ruas da vila, com “uma série de cenas”.
“Depois, [os espectadores] seguem de autocarro e vamos jantar a Vila de Frades, onde também há uma série de cenas. E ainda vamos a Selmes, Pedrógão, Alcaria e Marmelar”, explicou a encenadora.
Joana Craveiro revelou ainda que “uma grande parte” do espetáculo vai desenrolar-se nesta viagem de autocarro.
“Vamos visitar essas memórias nesses lugares e quando chegamos ao final, no fundo, fez-se uma viagem emotiva, política, de aprofundamento e de memória”, concluiu.