Violência doméstica: Quase 20% dos inquiridos em estudo no distrito de Beja diz já ter sido alvo
Um total de 19,8% dos inquiridos nos Censos da Violência Doméstica, realizados por uma cooperativa em cinco concelhos do distrito de Beja, revelou já ter sido alvo de violência doméstica, na maioria das vezes por parte do cônjuge.
“É uma percentagem significativa, até porque sabemos que a maior parte dessas pessoas não procura ajuda ou nem sequer conhece que existem serviços no território” para responder a estas situações, disse hoje à agência Lusa Marina Brito, da cooperativa Esdime, com sede em Messejana (Aljustrel), que promoveu o estudo.
Os Censos da Violência Doméstica decorreram ao longo do passado mês de junho nos concelhos alentejanos de Aljustrel, Almodôvar, Castro Verde, Ferreira do Alentejo e Ourique.
Promovida através do Gabinete VERA – Vítimas Em Rede de Apoio da Esdime, em parceria com o Instituto Politécnico de Beja e outras entidades, a iniciativa disponibilizou formulários de inquérito anónimos em vários espaços públicos dos cinco municípios abrangidos, assim como numa plataforma ‘online’.
O projeto foi realizado no âmbito do ‘VERA + Perto’, financiado pelo Programa Operacional Inclusão Social e Emprego, e acabou por receber resposta de 597 pessoas, maioritariamente mulheres (79,1%).
Entre os inquiridos, 117 (19,8%) acabou por assumir já ter sido alvo de violência doméstica.
Na maioria dos casos, a violência foi perpetrada pelos respetivos cônjuges (41,7%) e há mais de cinco anos (65,5%), mas 14 pessoas (12,1%) reconheceram que as agressões ainda acontecem “atualmente”.
Os Censos da Violência Doméstica indicam ainda que 58,4% das pessoas alvo de violência doméstica acabou por falar com outras pessoas, nomeadamente amigos ou familiares, mas, por oposição, 35,9% não falou com ninguém por “vergonha” ou “medo”.
Por concelhos, Ourique foi o município com mais casos de violência doméstica indicados (37), seguido de Almodôvar (26), Ferreira do Alentejo (20), Aljustrel (19) e Castro Verde (15).
Para a coordenadora do Gabinete VERA, os dados “analisados no geral são estatisticamente significativos”, apesar de não terem “validade estatística” quando desagregados por concelhos.
Ainda assim, frisou Marina Brito à Lusa, estes censos mostram “que as pessoas ainda não estão tão disponíveis assim para responder ou para se implicarem nestas questões, porque continua a existir muito medo e muita vergonha”.
“Haverá variados motivos e diferentes para isso, dependendo de cada realidade, mas a verdade é que existem muito mais pessoas [vítimas de violência doméstica] do que aquelas que nos chegam”, acrescentou.
Nesse sentido, os Censos da Violência Doméstica vão ser uma “base do trabalho” futuro a realizar pelo Gabinete VERA e pelos seus parceiros, por forma a mitigar esta problemática na região.
“Queremos perceber como podemos chegar a mais pessoas e fazer mais e melhor”, concluiu.