“É uma percentagem significativa, até porque sabemos que a maior parte dessas pessoas não procura ajuda ou nem sequer conhece que existem serviços no território” para responder a estas situações, disse hoje à agência Lusa Marina Brito, da cooperativa Esdime, com sede em Messejana (Aljustrel), que promoveu o estudo.

Os Censos da Violência Doméstica decorreram ao longo do passado mês de junho nos concelhos alentejanos de Aljustrel, Almodôvar, Castro Verde, Ferreira do Alentejo e Ourique.

Promovida através do Gabinete VERA – Vítimas Em Rede de Apoio da Esdime, em parceria com o Instituto Politécnico de Beja e outras entidades, a iniciativa disponibilizou formulários de inquérito anónimos em vários espaços públicos dos cinco municípios abrangidos, assim como numa plataforma ‘online’.

O projeto foi realizado no âmbito do ‘VERA + Perto’, financiado pelo Programa Operacional Inclusão Social e Emprego, e acabou por receber resposta de 597 pessoas, maioritariamente mulheres (79,1%).

Entre os inquiridos, 117 (19,8%) acabou por assumir já ter sido alvo de violência doméstica.

Na maioria dos casos, a violência foi perpetrada pelos respetivos cônjuges (41,7%) e há mais de cinco anos (65,5%), mas 14 pessoas (12,1%) reconheceram que as agressões ainda acontecem “atualmente”.

Os Censos da Violência Doméstica indicam ainda que 58,4% das pessoas alvo de violência doméstica acabou por falar com outras pessoas, nomeadamente amigos ou familiares, mas, por oposição, 35,9% não falou com ninguém por “vergonha” ou “medo”.

Por concelhos, Ourique foi o município com mais casos de violência doméstica indicados (37), seguido de Almodôvar (26), Ferreira do Alentejo (20), Aljustrel (19) e Castro Verde (15).

Para a coordenadora do Gabinete VERA, os dados “analisados no geral são estatisticamente significativos”, apesar de não terem “validade estatística” quando desagregados por concelhos.

Ainda assim, frisou Marina Brito à Lusa, estes censos mostram “que as pessoas ainda não estão tão disponíveis assim para responder ou para se implicarem nestas questões, porque continua a existir muito medo e muita vergonha”.

“Haverá variados motivos e diferentes para isso, dependendo de cada realidade, mas a verdade é que existem muito mais pessoas [vítimas de violência doméstica] do que aquelas que nos chegam”, acrescentou.

Nesse sentido, os Censos da Violência Doméstica vão ser uma “base do trabalho” futuro a realizar pelo Gabinete VERA e pelos seus parceiros, por forma a mitigar esta problemática na região.

“Queremos perceber como podemos chegar a mais pessoas e fazer mais e melhor”, concluiu.

 

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