Exposição em Castro Verde retrata vida das “mulheres dos campos do sul”
A realidade das mulheres trabalhadoras rurais do Alentejo entre a 1.ª República e o pós-25 de Abril é dada a conhecer numa exposição que abriu, nesta sexta-feira, no Museu da Ruralidade, em Entradas, concelho de Castro Verde (Beja).
A mostra, intitulada “Mulheres dos Campos do Sul – 1.ª República, Estado Novo e Revolução de Abril”, é inaugurada às 18:00, no Museu da Ruralidade, e integra o programa comemorativo dos 50 Anos do 25 de Abril em Castro Verde, organizado pela câmara.
Patente até 31 de maio, a exposição foi organizada por Constantino Piçarra, diretor daquele museu, a partir da imprensa da época e de outras fontes, “para contar a história da realidade das mulheres trabalhadoras rurais em três períodos da história do século XX”, indicou o município.
“O trabalho sobre mundo rural incide, sobretudo, sobre os trabalhadores rurais e como os grandes protagonistas são os homens”, porque “o papel e a situação das mulheres aparece ofuscada nesses trabalhos”, justificou à agência Lusa o historiador.
De acordo com Constantino Piçarra, a exposição revela que, ao longo dos três períodos históricos abordados, “houve mudanças” na condição das mulheres que trabalhavam no campo, “mas o que ressalta de uma forma muito visível e muito consistente são elementos de continuidade”.
Por exemplo, indicou, “o período da 1.ª República, sendo um regime democrático de tipo liberal, não tratou muito bem as mulheres e não lhes deu direito a voto”.
“E, em relação às mulheres do campo, atravessaram a 1.ª República numa situação de subalternidade”, acrescentou.
Depois, durante o Estado Novo, “este processo ainda se acentua mais e de uma forma insidiosa”, observou o diretor do Museu da Ruralidade.
“Toda a ideologia do Estado Novo vai no sentido em que situação da mulher é cuidar do marido, estar em casa e tratar dos filhos, não no mundo do trabalho”, reforçou.
Por fim, no pós-25 de Abril, “as mulheres ganharam o espaço público e estão nas manifestações em defesa da reforma agrária”.
“Contudo, não estão nos sindicatos, não são delegadas sindicais, não estão nas comissões de trabalhadores das herdades, não fazem parte das direções das unidades coletivas de produção e cooperativas e a sua participação nas assembleias-gerais é completamente residual”, afirmou.
Por tudo isto, concluiu Constantino Piçarra, “há uma continuidade ao longo dos primeiros 80 anos no século XX e essa continuidade é a subalternidade das mulheres do campo”.